Sobre o Soneto:


Particularmente, acho uma contradição dizer a um Poeta que há regras ao se escrever uma Poesia, pois sabemos, a inspiração nasce, muitas vezes, do nada, e, para isso não deveria haver normas.
Mas para o Soneto, uma das formas mais belas e perfeitas da Poesia, há.
Se não seguirmos determinados padrões, corremos o risco de escrevermos um outro estilo de Poesia, que não seja um Soneto, como pretendíamos.
E você fica equivocado, passando, também, uma falsa idéia do que seja o Soneto.
Bem, não sou nenhuma expert no assunto. Apenas gosto desse estilo e pesquisei, muito para publicar essa Teoria aqui.
Não se trata de uma Aula, ou de correção de Textos, mas um esclarecimento que encontrei para mim mesma e quero repartir com os amigos Recantistas.

O soneto é em si uma obra de arte. Não são poucos os sonetos que se conservaram tal como foram escritos, com a assinatura do autor, e as alusões a sonetos em forma de imagens criando, assim, a arte pela arte.
Não dá para dizer a um poeta "seja metódico em seus versos". Deve partir do próprio poeta a iniciativa de seguir ou não as regras que existem nos sonetos.

Métrica:

Em primeiro lugar, os versos devem possuir a mesma métrica, ou seja, o mesmo número de sílabas poéticas. Uma sílaba poética é bem diferente de uma sílaba comum. É possível unir duas ou mais palavras em apenas uma sílaba poética.

Por exemplo:
"Busque amor, novas artes, novo engenho..." (Luis de Camões)

Tente ler esse verso devagar, como se fosse uma só palavra, e vá contando quantas pausas existem até a última sílaba tônica.
1 | 2 | 3 |4 | 5 |6 | 7 |8 | 9 |10|

Bus que a mor, no vas ar tes, no vo en ge nho
Você encontrou as dez sílabas poéticas, certo? Repare que a expressão "busque amor", aos invés das quatro sílabas comuns (bus-que-a-mor), tem na poesia apenas três sílabas. Costuma-se ensinar as sílabas poéticas como sendo a forma em que são "ouvidos" os versos, por isso a sonoridade é importante em um soneto.

Posicionamento de rimas:

Além do número de sílabas, outra característica importante de um soneto é a ordem em que os versos rimam, ou posicionamento de rimas. Para os quartetos, existem três formas principais de posicionamento:

Rimas entrelaçadas ou opostas:
abba (o primeiro verso rima com o quarto, o segundo rima com o terceiro):

"Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a ingratidão - esta pantera 
Foi tua companheira inseparável..."
(Augusto dos Anjos)

Rimas alternadas:
abab (o primeiro verso rima com o terceiro, o segundo rima com o quarto):

"Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha..." 
(Olavo Bilac)

"Quando em teus braços, meu amor, te beijo,
se me torno, de súbito, tristonho,
é porque às vezes, com temor, prevejo
que esta alegria pode ser um sonho..." 
(Martins Fontes)

Rimas emparelhadas:
aabb (o primeiro verso rima com o segundo, o terceiro rima com o quarto):

"No rio caudaloso que a solidão retalha,
na funda correnteza na límpida toalha,
deslizam mansamente as garças alvejantes;
nos trêmulos cipós de orvalho gotejantes..."
(Fagundes Varela)


Sonoridade:

O último componente importante de um soneto é a sonoridade, isto é, onde estão as sílabas tônicas (ou fortes) de cada verso. Quando combinadas, essas sílabas fazem com que o soneto se pareça com uma suave canção. Quanto à sonoridade, os versos decassílabos classificam-se em dois tipos: heróicos e sáficos.

"Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento..." 
(Bocage)

Esses são versos decassílabos heróicos, porque as sílabas poéticas tônicas são a sexta e a décima, indicadas em negrito. Todos os 8816 versos de "Os lusíadas" são decassílabos heróicos. Um verso decassílabo sáfico, por sua vez, reforça a quarta, a oitava e a décima sílaba poética:

"Vozes veladas, veludosas vozes..." (Cruz e Souza)

Finalmente, os versos alexandrinos possuem a quarta, a oitava e a décima-segunda sílaba poética como sílabas fortes, ou a sexta, a décima e a décima-segunda. 
"Vozes veladas, veludosas vozes..." (Cruz e Souza)

Finalmente, os versos alexandrinos possuem a quarta, a oitava e a décima-segunda sílaba poética como sílabas fortes, ou a sexta, a décima e a décima-segunda.

Conclusão:

O que mais torna um soneto possível? A inspiração, o tema, o conhecimento das palavras e das rimas, que serão mais ricas quanto mais rico for o vocabulário do sonetista. Por isso, a leitura de outros sonetos, poesias e livros é importante. 



Fonte: Sonetos. com. br

Adaptação:Milla Pereira 

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