Sonetorto
Antes de tudo, não pensem que estou "criando uma forma nova" de soneto. O que podemos dizer é que, no máximo, estou batizando uma outra forma de se fazer sonetos como "Sonetorto" e que esta forma já existe há muito tempo, sendo chamada de "soneto imperfeito" ou "defeituoso" ou "fora das regras/padrões", quando é apenas uma recriação do processo de construção poética.
Dito, isso, explico-lhes o que é um sonetorto: Um soneto (dois quartetos, dois tercetos) fora do padrão clássico de quartetos primeiro, tercetos depois, progressão, métrica, rimas e todos os afins que o soneto clássico possui. Simplesmente isso. Não é preciso burlar isso tudo ao mesmo tempo para se fazer um sonetorto, ele tem uma única regra e ela é bastante clara e simples: "entortar" a forma canônica do soneto, em um ou em vários aspectos.
Exemplos? Lhes darei alguns dos meus.
1- "Entortando" a ordem das estrofes, disposição dos versos e progressão.
Sonetorto pseudo-reflexivo
No espelho o reflexo dos meus erros.
É complexo do convexo não ser teu.
É amplexo do léxico dos meus berros.
O desleixo do seu sexo, penso eu
É disléxico fragmento de um breu,
Refletido na aurora penumbral
O limite do inverso do meu eu
O limite do inverso do meu eu
Refletido na aurora penumbral
É disléxico fragmento de um breu,
O desleixo do seu sexo, penso eu.
É amplexo do léxico dos meus berros.
É complexo do convexo não ser teu.
No espelho o reflexo dos meus erros.
O poema progride até certo ponto, mas regride no seu "reflexo".
2- "Entortando" a métrica
Mancha de Caronte
Em versos mui Quixotescos
Passeio por minhas feras,
Enfrento minhas quimeras
E vejo meus eus grotescos.
Demônios em arabescos,
Restos de antigas eras
Presentes nas multiesferas
Das catedrais e afrescos.
O erro que se desbota
Em si mesmo se esgota.
- Cria antiga do meu eu.
Na lira, canção de orfeu.
Desprende-se a grande nota
Em procura de resposta.
"Simples mente, morreu."
Resolvi focar o ritmo próprio no qual o poema foi se configurando. E nessas horas, ele geralmente não me dá espaço para ficar pensando em decassílabos.
O propósito é libertar-se da forma canônica sem perder a qualidade poética. De que forma? Da forma que preferir. Quais são as outras possibilidades? Milhares. Delas, só os poetas sabem. E aí, aceita o desafio de sair "entortanto" sonetos por aí? rs