Análise poética de HORAS RUBRAS, Florbela Espanca

por Edinaldo Formiga
 



A     Horas profundas, lentas e caladas, ADAS
B     Feitas de beijos sensuais e ardentes, ENTES
B     De noites de volúpia, noites quentes ENTES
A     Onde há risos de virgens desmaiadas... ADAS

A      Oiço as olaias rindo desgrenhadas... ADAS
B      Tombam astros em fogo, astros dementes, ENTES
B      E do luar os beijos languescentes ENTES
A      São pedaços de prata plas estradas... ADAS

C     Os meus lábios são brancos como lagos... AGOS
C     Os meus braços são leves como afagos... AGOS
D     Vestiu-os o luar de sedas puras... URAS

E     Sou chama e neve branca e misteriosa... OSA
E/D E sou, talvez, na noite voluptuosa, UOSA (û)
D    Ó meu Poeta, o beijo que procuras! URAS (û)


O poema Horas Rubras, é um soneto (composto por dois quartetos e dois tercetos). Ele encontra-se no Livro Sóror Saudade, que a princípio chamaria de Livro do Nosso Amor. O título do poema e a sua participação neste livro deixa claro a relação amorosa entre dois seres. No título Horas Rubras, percebemos a paixão com seus sentimentos em vários momentos. Em Rubras, que é parte do título observamos a simbologia entre a imagem da paixão e o objeto do desejo, entendendo que algo que é rubro é vermelho, escarlate e afogueado, assemelhando-se ao antigo pensamento em que compara a cor vermelha com a paixão e o desejo (COR/AMOR).
O poema traz um tom sensual, mas sem perder o estilo e os valores da entrega amorosa, podemos perceber esse aspecto, principalmente, nos dois quartetos. O Eu-lírico encontra-se nas horas noturnas, onde não há perturbação nem barulho. Elas são constituídas de afagos e carinhos nas noites de paixão, e são nessas mesmas horas que as virgens se entregam ao seu Amor e são saciadas de amor. Essas Horas são como uma roleta, tanto puxa elementos emotivos para ser formada quanto atrai seres, para se amarem.
 
O soneto traz rimas externas (apresenta as rimas no final dos versos)em todos os versos, isso confirma que as Horas de todos os lados atrair algo para si. Apresenta também em todos os versos, quanto a semelhança das letras, rimas consoantes (combinando consoantes e vogais na constituição das rimas).
 
Quanto a categoria gramatical observamos em todos os versos rimas pobres, porque apresentam vocábulos de mesma classe gramatical (subst.+subst./ adj.+adj / subst.+subst./ adj.+adj.). No poema encontramos também rimas pobres, quanto ao critério fônico (identidade a partir da vogal tônica). Nas rimas adjetivais percebemos o uso da consoante nasal (N), talvez a poetisa pensou em transmitir os acontecimentos da relação expressados nas Horas Rubras, pelo corrente uso da mesma, que é bem marcante.
 
Quanto a distribuição das rimas no poema, encontramos na 1ª estrofe as interpoladas A/A e emparelhadas B/B (compostas por adjetivos). Revela a posição à procura que o Eu-lírico expressa. Já no 2º quarteto vemos a inversão semântica, em interpoladas A/A e emparelhadas B/B, com o sentido de saciedade. O último verso do 1º quarteto e o 1º verso do segundo quarteto esclarece essa relação de saciedade/felicidade.
 
Na terceira estrofe qué é um terceto encontramos as rimas C/C, emparelhadas (subst.+subst.), e a revelação de pureza, de brancura dessa mulher/virgem que sai às Horas Rubras. Ela está vestida de formosura e é objeto da paixão esvoaçadora. E continua nas rimas emparelhadas E/Eo tom de candura. O segundo verso do último terceto pode formar rimas consoantes em E (por apresentar a rima OSA) e rimas toantes em D ( por apresentar a sonoridade da vogal fechada Û), a rima desse verso fica E/D. Ela revela que é tudo o que o poeta quer e torna-se a satisfação das Horas Rubras do poeta e à entrega dos dois seres ao mesmo sentimento, o amor.
 
 
 
ANÁLISES POÉTICAS. Edinaldo Formiga. São Paulo: 24/01/10.
 
Edinaldo Formiga
Enviado por Edinaldo Formiga em 24/01/2010
Código do texto: T2048485
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