Análise do soneto DE JOELHOS
 FLORBELA ESPANCA


 

“Bendita seja a Mãe que te gerou.” A OU
Bendito o leite que te fez crescer
B CER
Bendito o berço aonde te embalou
A OU
A tua ama, pra te adormecer!
B CER

Bendita essa canção que acalentou
A OU
Da tua vida o doce alvorecer ...
B ER
Bendita seja a Lua, que inundou
A OU
De luz, a Terra, só para te ver ...
B ER

Benditos sejam todos que te amarem,
C AREM
As que em volta de ti ajoelharem
C AREM
Numa grande paixão fervente e louca!
D CA

E se mais que eu, um dia, te quiser
B ER
Alguém, bendita seja essa Mulher,
B ER
Bendito seja o beijo dessa boca!
DCA
 

Análise do Poema DE JOELHOS, Florbela Espanca
 
O Soneto De Joelhos está no Livro das Mágoas da escritora portuguesa Florbela Espanca. É um soneto que apresenta o eu-lírico feminino. Observamos a admiração de uma mulher por Alguém. Notamos o amor espelhado e apontado para uma pessoa que é desejada.
 
O texto apresenta duas quadras com rimas cruzadas (ABAB) e dois tercetos com rimas emparelhadas (CC/BB), com todos os versos apresentados em rimas externas, combinando ritmo e estética poética.
 
O poema traz rimas consoantes em todos os versos. Quanto ao sentido gramatical ele apresenta rimas fracas nas três primeiras estrofes e no último terceto traz rima forte indicando o desfecho semântico, revelando a variação do sujeito, no substantivo Mulher e o desejo da desejada, no verbo quiser.
 
Quanto à vogal tônica traz nos versos 2,4 da primeira estrofe rimas ricas, porque apresenta a identidade da vogal a partir da consoante. Os demais versos são rimas pobres, por serem a partir da vogal tônica.
 
O soneto desperta desejo do feminino por Alguém marcado pelo amor. O eu-lírico feminino apresenta em traços velozes uma retrospectiva sobre esse SER, isso pode ser visto pelo uso dos verbos (gerou, fez crescer, embalou e adormecer). As rimas verbais se dão no pretérito mostrando que ela faz um quadro sintético em poucas palavras e nos apresenta um pouco dos acontecimentos ligados a esse desejado.
O poema traz em acalentou e inundou, dois seres ligados às ações, a canção e a Lua, símbolos da alegria e brilho. Percebe-se então que esse SER desejado traz alegria ao passo que ele brilha onde estás.
 
O soneto dá a entender que ele (o SER) é e pode ser querido por alguém ou até mesmo por todos. Por isso o eu-lírico anuncia que os que o buscarem serão felizes. É esse SER que recebe reverência, confirmada pelos verbos amarem e ajoelharem. E o essa mulher reflete nos adjetivos fervente e louca, o amor retaído.
 
No último terceto está o desfecho desta poesia. Ele é cativante e complexo. Podemos perceber a singularidade desta última estrofe, se compararmos às demais.
 
A conjunção E iniciando o terceto mostra o encanto da semântica poética, o que aparentemente estaria todo esclarecido e revelado nas estofes anteriores, aqui é acrescentado uma outra idéia. Em um dia, percebemos o vazio temporal e o desprezo. Esse espaço de tempo indeterminado confirmado pelo verbo no futuro (quiser) é a chave do poema, que expõe a conformação com a solidão. Esse conforto existencial não pode ser negado por ter no primeiro verso a partícula condicional se, dando idéia de opção, escolha. O eu lírico se submete a Alguém e, se esse, tiver outra que não seja ela, somente restará a solidão. A troca de classes dá a entender a troca dela por outra que é a Mulher. Então é possível que a Outra o deseje mais que ela. Se isso acontecer ela será muito feliz, será a apropriadora do amor que ela desejava.
 
 
 
 
ANÁLISES POÉTICAS. Edinaldo Formiga. São Paulo: 09/01/10.
Edinaldo Formiga
Enviado por Edinaldo Formiga em 09/01/2010
Código do texto: T2020108
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