ALVARENGA PEIXOTO
Alvarenga Peixoto, uma introdução
Poeta e político, Alvarenga Peixoto oscilou sua vida entre o desembargador e o poeta. Nascido no Rio de Janeiro em 1744 estudou no colégio dos Jesuítas em Portugal, e mais tarde “doutorou-se em Leis” pela Universidade de Coimbra, exercendo a profissão de Juiz em Portugal.
Ao retornar ao Brasil, foi nomeado ouvidor do Rio das Mortes, em Minas Gerais, onde conheceu sua esposa, Barbara Heliodora. Tornou-se proprietário de lavras no Sul de Minas. Devido seu envolvimento com a Inconfidência Mineira, Alvarenga Peixoto é conduzido ao presídio na Ilha das Cobras – local onde escreve o poema em destaque. O poeta passou seus últimos dias em cárcere na cidade de Ambaca na Angola, falecendo em 1792. Sua obra não é muito vasta, visto que no ato de sua prisão, grande parte de seus pertences foram destruídos. Analisemos então um dos poemas encontrados em meio a seus manuscritos na Biblioteca Nacional de Lisboa, À Dona Bárbara Heliodora.
Análise do poema:
À Dona Bárbara Heliodora
Bárbara bela, Do Norte estrela,
Que o meu destino Sabes guiar,
De ti ausente Triste somente
As horas passo A suspirar.
Por entre as penhas De incultas brenhas
Cansa-me a vista De te buscar;
Porém não vejo Mais que o desejo,
Sem esperança De te encontrar.
Eu bem queria A noite e o dia
Sempre contigo Poder passar;
Mas orgulhosa Sorte invejosa,
Desta fortuna Me quer privar.
Tu, entre os braços, Ternos abraços
Da filha amada Podes gozar;
Priva-me a estrela De ti e dela,
Busca dous modos De me matar!
O poema é dedicado à sua esposa. Composto por quatro quartetos, alternando de nove a doze sílabas em cada verso. Algo interessante é que, aproximadamente, após a sexta sílaba de cada verso o poeta insere a sétima sílaba com letra maiúscula. De modo que nos é possível duas leituras: a primeira de todo o poema:
Bárbara bela, Do Norte estrela,
Que o meu destino Sabes guiar,
De ti ausente Triste somente
As horas passo A suspirar.
E a segunda, somente dos fragmentos destacados em letra maiúscula:
Do Norte estrela,
Sabes guiar,
Triste somente
A suspirar.
Embora participante do movimento Árcade, Alvarenga Peixoto expõe suas aspirações pré-românticas logo no primeiro quarteto, quando compara sua amada Barbara à estrela do Norte – um dos principais pontos de orientação do hemisfério norte. Com tal metáfora o poeta eleva sua esposa aos altos céus, igualando-a aos astros, por ser bela e inalcançável. Sendo assim, é tão possível tocar sua amada quanto é possível tocar uma estrela. Esta é uma das características utilizadas pelos poetas românticos, os quais vêem a amada como um ser intocável, e a única coisa possível a fazer é desejá-la.
Tendo em vista o local onde estava Alvarenga Peixoto na ocasião em que escreveu o poema, podemos supor que em seu segundo quarteto, o poeta descreve uma paisagem similar a que encontra na Ilha das Cobras - “Por entre as penhas De incultas brenhas”, logo, as pedras das florestas. Nesta paisagem, ele nos diz ficar a procura da amada, contudo sem a esperança do encontro, pois não vê nada além do que o próprio desejo, de encontrá-la.
O desejo de estar com a amada é confirmado no terceiro quarteto, no qual, compara a uma fortuna a possibilidade de estar dia e noite com a amada. Contudo, a sorte, ou seja, a vida, com inveja do amor dos dois, procura separá-los. Embora tenha a fortuna - o amor, não pode usufruir, pois a sorte invejosa - a vida, quer privá-lo.
No quarto e último quarteto, ao citar com tristeza o fato de não poder desfrutar a paternidade, o poeta retoma a estrela do início do poema, contudo relacionando à sua filha e a sua esposa: “Priva-me a estrela De ti e dela”. É privado de seguir, de acompanhá-las. Outro sentido - completado no último verso - é que a estrela, sendo a corte, por não cumprir a sentença de morte, busca outro modo de matá-lo, o de deixá-lo longe das pessoas que ama.
Referências Bibliográficas:
 Alvarenga Peixoto: O Poeta Inconfidente Por Enzo Carlo Barroco
Acessado em 11/06/2009.
Disponível em: http://www.recantodasletras.com.br/biografias/36161
 Alvarenga Peixoto - Arcadismo
Acessado em 14/06/2009.
Disponível em: http://colegioweb.com.br/literatura/alvarenga-peixoto
 BOSI,Alfredo.
Historia Concisa da Literatura Brasileira. 43 ed. - São Paulo: Cultrix, 2006.