Duplix: Um Casamento entre Dois Poetrix

O Duplix é uma modalidade poetrixtica que compõe uma das formas múltiplas do Poetrix, consistindo em um diálogo entre dois poetas através da parceria poética em pleno exercício do processo de intertextualidade permitida por essa mini poesia. Nessa interação, cada autor contribui com um terceto que deve ter uma conexão entre ambos, formando uma unidade de sentido que proporcione três leituras distintas.

A primeira leitura é oferecida pelo autor que primeiro escreveu, trazendo sua inspiração e sua mensagem inicial. A segunda leitura é a resposta do segundo autor ao primeiro, criando um diálogo poético entre os dois escritores. A terceira leitura acontece quando os dois poetrix são unidos, formando um único poema coeso e harmonioso.

No processo de produção do Duplix, é fundamental que o segundo autor não altere o poetrix original, mantendo a integridade do texto inicial. As leituras devem fazer sentido tanto separadamente quanto juntas, criando uma conexão entre os versos e proporcionando uma experiência poética inovadora ao leitor.

O poetrix que se deriva do original pode ser escrito à direita ou à esquerda, desde que forme um todo coeso e harmonioso. A junção dos dois poemas deve casar perfeitamente, mostrando a existência e a consolidação do Duplix como uma forma poética complexa e delicada, que exige sensibilidade, criatividade e habilidade por parte dos escritores.

O Duplix é, portanto, uma expressão da riqueza da poesia contemporânea, que permite a interação e a colaboração entre poetas, criando uma rede de significados e sensações que enriquecem ainda mais a arte literária. É uma forma de experimentação e de diálogo que desafia os limites da linguagem e promove a inovação e a originalidade na produção poética. O Duplix representa, assim, uma das faces mais criativas e complexas do Poetrix, demonstrando a capacidade do ser humano de criar beleza e significado através das palavras.

Convido você a desfrutar um pouco desse processo, para tanto, trago dois duplix, “Melancolia // Andarilha”, da dupla Pedro Cardoso e Angela Bretas e “Biografia // Palavras e Vidas” da dupla Gilvânia Machado e André Figueira.

Antes de iniciar essa aventura, vou apresentar primeiro os poetrix separados, posteriormente o contemplaremos juntos, em harmonioso diálogo entre os autores.

Siga-me e aprecie, sem moderação, esse casamento poético que chamamos de “duplixação”, nas linhas a seguir:

1) Melancolia

(Pedro Cardoso)

Vim de muito longe

légua e meia

para ser exato, eu era moço

2) Andarilha

(Angela Bretas)

Percorri caminhos

sem sola no sapato

com fogo nos pés

* * *

Melancolia // Andarilha

(Pedro Cardoso // Angela Bretas)

Vim de muito longe // percorri caminhos

légua e meia // sem sola no sapato

para ser exato, eu era moço // com fogo nos pés

O Duplix "Melancolia // Andarilha", de Pedro Cardoso e Angela Bretas, apresenta um paralelo em relação às experiências de viagem e caminhada que os protagonistas vivenciam.

Em "Melancolia", o poetrixta Pedro Cardoso expressa ter vindo de muito longe, na primeira linha; e percorrendo uma distância de légua e meia, na segunda linha. Essa jornada, apesar de não ser especificada, indica um percurso longo e desgastante; o eu lírico afirma ser jovem na época da viagem, na terceira linha, o que sugere uma busca por novas experiências e conhecimentos.

Já em "Andarilha", a poetrixta Angela Bretas retrata a experiência de percorrer caminhos, na primeira linha, sem ter solas no sapato, na segunda linha - o que evidencia uma jornada árdua e cheia de dificuldades. A presença do fogo nos pés, na terceira linha, indica uma motivação intensa e inquietação para seguir adiante, mesmo diante das adversidades.

Neste duplix, há uma semelhança no sentido de que ambos os personagens estão em movimento, seja físico ou emocional. Ambos buscam alguma forma de superação ou transformação em suas jornadas, seja pela juventude e curiosidade, como em "Melancolia", ou pela intensidade e determinação, como em "Andarilha".

Assim, há uma conexão entre os sentimentos de busca, deslocamento e persistência presentes em ambas as obras, apesar das diferenças nas descrições dos trajetos e vivências de cada protagonista.

Como prometido, vamos a mais um casamento poético doravante denominado "poetrixação”, nas próximas linhas:

1) Biografia

(Gilvânia Machado)

Lutas, conquistas

resumo da vida

in_finitas linhas

2) Palavras e Vidas

(André Figueira)

Verdades vividas

escritas corridas

tremidas, invisíveis, perdidas...

Biografia // Palavras e Vidas

(Gilvânia Machado // André Figeuira)

Lutas, conquistas // Verdades vividas

resumo da vida // escritas corridas

in_finitas linhas // tremidas, invisíveis, perdidas...

O Duplix "Biografia // Palavras e Vidas", de Gilvânia Machado e André Figueira, exploram a relação entre a vida e a escrita. Ambos os poetrix apresentam a escrita como uma forma de expressão e de registro das experiências vividas.

Em "Biografia", a poetrixta Gilvânia Machado resume a vida em "lutas" e "conquistas", na primeira linha. Em seguida sugere que a existência humana pode ser resumida em uma sequência de desafios enfrentados e objetivos alcançados, na segunda linha. A expressão "in_finitas linhas", no terceiro verso, indica que a vida não pode ser completamente descrita ou definida através de palavras, já que há sempre mais a ser vivido e experimentado.

Já em "Palavras e Vidas", o poetrixta André Figueira enfatiza a conexão entre a escrita e a experiência. As "Verdades vividas", na primeira linha, são transformadas em "escritas corridas", na segunda linha, destacando a rapidez com que as palavras são usadas para transmitir vivências. O vocábulo "tremidas", na terceira linha, sugere a fragilidade das palavras diante das experiências intensas e complexas da vida, enquanto "invisíveis" e "perdidas" remetem à natureza efêmera e evanescente da linguagem.

Neste incrível duplix, os autores dialogam sobre a capacidade da escrita de prender fragmentos da existência humana. Enquanto Gilvânia Machado se concentra na ideia de resumir a vida em eventos e realizações, André Figueira destaca a dificuldade de traduzir as experiências em palavras, revelando a brevidade e a limitação da linguagem.