O Título do Poetrix: Uma Arte à Parte

A criação de um Poetrix é um processo vasto e fascinante, onde cada palavra carrega consigo um significado profundo. Embora existam diversas explicações sobre o que é um Poetrix, pouco se fala sobre um elemento crucial que pode transformar a experiência de quem o lê: o título. Este não é apenas uma simples etiqueta, mas sim a porta de entrada para o poema, uma síntese que pode sugerir significados e estabelecer uma conexão com o conteúdo que se segue.

O Poetrix é um gênero que poucos conhecem a fundo, e é por isso que pretendo explorar, desta vez, a arte do título em seu contexto, analisando como ele desempenha um papel fundamental na criação da identidade poética e na comunicação de ideias.

Ao investigar essa dimensão muitas vezes negligenciada, espero trazer à tona a importância do título como um elemento criativo e interpretativo que enriquece a expressão poética.

Para explicar por que o título do Poetrix é uma arte à parte, trago um exemplo fantástico extraído de uma análise realizada pelo acadêmico Pedro Cardoso sobre a obra do catedrático honorário da Universidade de Genebra (UNIGE/CH), o professor Joaquim Dolz, ou Ximo Dolz, pesquisador em didática das línguas, especialista em gêneros minimalistas, que com maestria abraçou o Poetrix.

O terceto em questão é "Gaza". Vamos a ele:

Gaza

Rápida a morte

leve o peso prematuro

pariu o tanque

Segundo Pedro, a escolha da obra submetida à sua preciosa análise não foi aleatória, e ele o fez exatamente pelo título "Gaza", o qual chamou sua atenção. Que poderia ser "Faixa de Gaza", mais óbvio, porém o autor optou por "Gaza" por ser mais impactante, além de respeitar o princípio da concisão exigido pelo terceto.

Concordo plenamente com o analista, pois o título escolhido para o poemeto é verdadeiramente poderoso, indicando o tema e conferindo à obra sua própria identidade. Como destaca Pedro Cardoso, "o poema tem uma identidade e uma certidão de nascimento". Inclusive, já dissertei a respeito na obra “Quatro estações em Poetrix”, sobre a importância do título para o Poetrix.

Para o acadêmico José de Castro, a escolha do título também constitui uma arte capaz de situar e contextualizar o poemeto, além de conferir-lhe significado. Ou seja, escolher o título ideal para um Poetrix é uma tarefa que envolve verdadeira arte, pois ele não apenas situa e contextualiza o poema, também o representa de maneira significativa. Em suas palavras:

"Sabe-se que o título do Poetrix pode ter o tamanho que se quiser, pois as palavras não entram na contagem das sílabas. Isto não quer dizer que devemos abusar, criando títulos quilométricos, pois o Poetrix é um gênero minimalista."

Como ele mesmo ressalta, o título pode ser tão extenso quanto desejado, já que as palavras ali contidas não entram na contagem das sílabas. No entanto, é fundamental respeitar a essência minimalista desse gênero poético, optando por títulos concisos que despertem a curiosidade do leitor. Assim, é sábio seguir o conselho de Castro, afinal, como diz o ditado popular, "para bom entendedor, meia palavra basta".

Um título curto tem a capacidade de transmitir muito e pode servir como uma espécie de chave interpretativa ou até mesmo um complemento para a poesia, uma porta de entrada que direciona o leitor para a compreensão do poema em si. Ele funciona como uma pista que indica o caminho a ser percorrido na leitura. Para ilustrar esse conceito, apresento um poetrix autoral com título longo, como exemplo:

Estrelas brilhantes iluminam a noite enquanto a lua dança no céu escuro

Minha solidão

brilho intenso

lua prateada

Embora não esteja incorreto, podemos perceber que o título extenso pode ser um pouco excessivo. Que tal reler este mesmo terceto com um título diferente? Assim, poderemos reavaliar a obra de uma nova perspectiva:

Reflexos da lua

Minha solidão

brilho intenso

lua prateada

Ao substituir um título extenso por algo mais enxuto, notamos uma diferença significativa que isso faz na percepção e no impacto do poema. A escolha cuidadosa do título pode ressaltar e intensificar a mensagem transmitida pelo Poetrix, como por exemplo, ao associar a solidão à luminosidade da lua, criando um clima mais poético. Assim, podemos compreender como o título exerce um papel fundamental na compreensão e na apreciação do Poetrix, guiando o leitor por um caminho de significados implícitos e revelando nuances sutis que enriquecem a experiência poética. É essa magia dos títulos no Poetrix que nos convida a explorar mais o sentido e a mergulhar nas profundezas da expressão.

Outro detalhe extremamente importante na composição de um poetrix que tenho prestado atenção, e o acadêmico José de Castro também menciona em seu apontamento teórico na coluna literária do site da AIP (Academia Internacional Poetrix), é a imprescindibilidade de evitar repetir palavras dos versos no título. Essa observação é uma questão bastante interessante e que merece uma análise cuidadosa.

O Poetrix, enquanto uma expressão poética contemporânea que caminha nas vias do minimalismo, distingue-se exatamente pela sua concisão e pela busca de um impacto expressivo em um espaço limitado, que não ultrapasse 30 sílabas poéticas. Portanto, é fundamental que cada um dos três versos seja explorado de maneira eficiente, maximizando o uso de cada sílaba para transmitir a profundidade e a intensidade da mensagem.

Quando se fala sobre a importância de não repetir palavras do verso no título, podemos considerar vários aspectos:

- Originalidade e criatividade: Um título que não repete palavras dos versos pode servir de convite ao leitor, instigando melhor a interpretação e permitindo que o título atue como uma chave para a compreensão do texto;

- Autonomia do título: No Poetrix, o título deve ser a sua própria identidade e evitar repetições ajuda a estabelecer uma relação mais dinâmica com o conteúdo do poema;

- Economia linguística: Evitando repetições no título, o poetrixta desenvolve melhor a técnica da poetrixação e isso reflete um domínio sobre as nuances da expressão poética.

A inobservância das diretrizes estabelecidas pelos cânones da AIP é mais frequente do que se poderia supor. Ao explorar algumas escrivaninhas virtuais no site brasileiro de escritores Recanto das Letras, encontrei uma quantidade significativa de poetrix que cometem o erro de repetir palavras dos versos no título.

Admito que também já incorri nesse equívoco que empobrece a nossa minipoesia e apresento a seguir um exemplo para ilustrar esse subtema:

Telefone

Telefone chama:

trim! trim! trim!

- Alô! Quem fala?

O meu pecado neste terceto reside na repetição do vocábulo "telefone", no título e no início do primeiro verso. Essa redundância diminui a força poética da obra, tornando-a menos marcante e pobre em significados.

A repetição excessiva de palavras diluiu a originalidade e a expressividade do texto, levando o leitor a uma experiência menos envolvente. Este erro também pode ser percebido no exemplo de poetrix com título longo que chamei de “Estrelas brilhantes iluminam a noite enquanto a lua dança no céu escuro”, que posteriormente, substitui por “Reflexos da lua”, que consta tanto no título quanto no terceiro verso.

Se fossem melhores exploradas as possibilidades nos versos, encontraria e empregaria os vocábulos “satélite”, “astro” ou “orbe” ao invés de usar “lua”, e seria um poetrix infinitamente mais rico.

Para evitar esse tipo de deslize, algumas estratégias muito eficientes podem ser adotadas:

- Variedade lexical: Use sinônimos ou expressões alternativas que transmitam a mesma ideia. Por exemplo, em vez de repetir "telefone", eu poderia ter optado por termos como "aparelho", "dispositivo" ou até mesmo fazer referência ao ato de "ligar";

- Foco na imagem: Concentrar-se em criar uma imagem vibrante que não dependa da repetição de palavras. A descrição do som do toque ou a interação do diálogo podem ser exploradas de forma mais rica;

- Revisão crítica: Após a escrita do poemeto, é essencial fazer uma revisão crítica, buscando identificar possíveis repetições e avaliando se cada palavra realmente contribui para o significado global da obra;

- Feedback de outros: Compartilhar o trabalho com colegas ou em grupos de escrita pode proporcionar novas perspectivas e ajudar na identificação de redundâncias que podem passar despercebidas pelo autor.

Ao implementar essas estratégias, os poetrixtas podem aprimorar suas composições e enriquecerão a experiência poética para os leitores.

Desde que tive a oportunidade de conhecer Pedro Cardoso, um verdadeiro gênio na arte do Poetrix, tenho aplicado diversas estratégias que ele me ensinou. Com suas orientações, aprendi cada etapa deste fascinante processo que agora compartilho com você, que também se interessa por essa forma minimalista de poesia que tem encantado tanto o Brasil quanto o mundo.

Sempre que finalizo um poetrix, envio-o ao meu amigo Pedro pelo WhatsApp. Ele é uma fonte valiosa de feedback e, quando necessário, me ajuda a lapidar as palavras, transformando-as em verdadeiras obras de arte. Quando ele revisa e vê que tudo está em ordem e aprecia o poema, simplesmente diz: “Beleza!” ou “Porreta!” Essa interação tem sido fundamental para minha evolução como poetrixta.

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Referências:

CASTRO, José de. A arte do título no Poetrix. Coluna literária da Academia Internacional Poetrix. Disponível em https://www.academiapoetrix.org/2022/03/a-arte-do-titulo-no-poetrix-por-jose-de.html?m=0#more Acesso em 18/08/2024

MACHADO, Pedro Cardoso. A importância do Título. Coluna Literária da Academia Internacional Poetrix (AIP). Disponível em https://www.academiapoetrix.org/search/label/A%20import%C3%A2ncia%20do%20t%C3%ADtulo%20-%20Pedro%20Cardoso Acesso em 18/08/2024