Duplix: o Poetrix que se duplicou

Uma breve dissertação sobre o Duplix

O poetrix é uma forma poética que ganhou destaque na literatura brasileira contemporânea. Caracterizado por sua concisão e brevidade, desafia os poetas a expressarem seus pensamentos e sentimentos em apenas três versos. Essa limitação de espaço exige maior precisão na escolha das palavras e uma habilidade especial para sintetizar ideias de forma impressionante.

Dentre as várias subcategorias do poetrix, destaca-se o Duplix. Criada pelo poeta Pedro Cardoso, em parceria com a escritora Tê Soares, essa modalidade consiste em uma interação poética entre dois autores, onde cada um contribui com um terceto. Os versos devem se conectar, formando uma unidade de sentido, enquanto cada autor mantém sua individualidade e estilo.

No Duplix, há uma dança de palavras e imagens entre os poetas. É como se houvesse um diálogo poético, em que cada terceto responde ao anterior, gerando uma sequência de versos que se complementam harmoniosamente. Essa interação permite que diferentes perspectivas e vozes se entrelacem, proporcionando uma experiência rica e diversa ao leitor.

Uma das características marcantes do Duplix é a possibilidade de explorar múltiplos significados e interpretações. Cada terceto pode trazer uma visão distinta do tema abordado, criando um jogo de palavras e sentidos que estimula a reflexão e a imaginação. Além disso, o desafio de criar uma resposta poética ao terceto anterior desperta a criatividade dos autores, resultando em composições surpreendentes e enriquecedoras.

O Duplix, com sua interação poética, oferece um novo horizonte de expressão para os poetas contemporâneos. É uma forma de arte que permite a colaboração entre artistas, a troca de ideias e a construção conjunta de significados. Ao mesmo tempo em que mantém a individualidade de cada autor, promove a integração e a sinergia poética, unindo diferentes vozes e estilos em um único poema.

Por meio do Duplix, a literatura ganha uma dimensão colaborativa, rompendo com a noção de que a escrita é uma atividade solitária. Os poetas se entrelaçam, se desafiam e se complementam, criando uma obra única que transcende as individualidades. E, assim, o poetrix e suas várias subcategorias, incluindo o Duplix, seguem desbravando novos caminhos e enriquecendo a poesia contemporânea com sua vibrante criatividade.

Exemplos de Duplix para contemplação:

1. SEM VOCÊ // // FENEÇO

(Mariah Bonitah // Mardilê Fabre)

A música emudeceu // o violão não tangeu

a poesia calou // a rosa murchou

meu coração invernou // minha alma trespassou.

À esquerda, o poetrix-raiz “Sem você”; à direita, o derivado “Feneço”. Observe que cada um é um e que os dois conservam sua independência, ou seja, fazem sentido sejam juntos ou isolados. Assim, nascendo uma nova poesia: o Duplix.

Contemple mais um exemplo:

2. PERDAS // DOEM

(Marlene Toledo // Darlan Torres)

Solidão abarca // almas inquietas

Braços vazios // sem abraços

coração na mão // só tristeza

As produções “Perdas” e “Doem” consistem em um duplix. Dois poetrix independentes são combinados para formar uma nova poesia. No caso dessa produção, o poetrix-base intitulado "Perdas" foi escrito por Marlene Toledo, enquanto o poetrix derivado intitulado "Doem" foi escrito por Darlan Torres. Separadamente, esses poetrix podem ser lidos como duas peças independentes, cada uma com sua temática e mensagem própria. No entanto, quando lidos juntos, esses poetrix formam a poesia "PERDAS DOEM". O poetrix se duplicou. Com a combinação dos versos de ambos cria uma nova poesia, gerando uma reflexão mais profunda sobre a solidão, a tristeza e a perda de alegria que podem acompanhar a vida.

A demarcação dos poetrix pelas barras duplas indica a separação entre os versos de cada poesia e indica a possibilidade de serem lidos como Duplix ou individualmente. Ocorreu aqui uma interação entre os poetas e uma ampliação das possibilidades de criação poética através do exercício da intertextualidade.