Antiverso

Sempre digo que o Poetrix ainda está dando os seus primeiros passos e este, que estou propondo agora, é apenas mais um deles. Espero que não seja o último. Pretendo continuar minha caminhada na busca de novas vertentes e derivações poéticas. As possibilidades que o Poetrix nos oferece são as grandes responsáveis pela minha motivação literária. A ideia é construir tercetos com simplicidade e leveza. Desejo que as pessoas possam se divertir ainda mais com esta nova teoria.

Esta criação não se enquadra nas "Diretrizes da AIP - Como compor um bom Poetrix", por vários motivos e quero destacar apenas dois deles: não admite o uso de verbos e nem rimas de "trovas" aquelas de final de verso. No mais, ele carrega em seu formato as regras do Poetrix, criado pelo poeta baiano Goulart Gomes.

Quase sempre penso que a loucura dos versos anda ao meu lado, ombro a ombro, a par e passos. Mal termino uma ideia já tenho outra perambulando em mim, como se eu estivesse de ponta-cabeça, querendo me levantar. Não sei se o problema fica maior ou menor no momento em que vou passar essas maluquices para o papel.

Vejam só! Agora cismei que não preciso de verbos para compor meus novos tercetos, inclusive nos títulos. Sei que não será nada fácil de início, mas vou em frente, tentando sempre e para sempre.

Os verbos são palavras que indicam ação, movimento, estado ou fenômeno meteorológico. Fazem com que as ações ganhem novos sentidos. Sem eles, os tercetos talvez fiquem mais concisos e, certamente, mais complicados na sua composição, mas creio que terão uma leitura mais harmônica e simples. Porém, vamos ter que escolher, a dedo, as palavras, como se elas fossem peças de um grande quebra-cabeças.

A este novo modelo que estou propondo, vou chamar de Antiverso, que é semelhante ao Poetrix, exceto, como citei anteriormente, no que concerne aos verbos e ao fatiamento de frases.

O Antiverso é um poema estático, não apresenta no seu contexto nenhum movimento ou ação. É uma radiografia de um momento único, ímpar. Não é afetado pelo passar das estações, ou seja, não faz parte de qualquer época ou tempo. O terceiro verso tem importância vital na composição, é ele que amarra a ideia, é ele que dá sentido ao texto.

Vou apresentar alguns exemplos de minha autoria para que a ideia fique mais clara.

Observação: aceito todas as críticas e considerações pertinentes a este assunto.

1 - O beijo

bocas coloridas

ardentes,

corpo a corpo

2 - Ousadia

do lado de lá, Lia.

com ela, no ventre, a esperança,

nos braços, boneca de pano

3 - Mar

doce, salgado

até morto

baleias Orcas em promiscuidades

4 - Animais domésticos

canis vazios - desertos,

bichos de todas as raças

nas janelas dos carros importados

5 - Urubus

no monturo do quintal alheio

bichos pretos famintos:

carniça, manjar dos deuses!

6 - Dicionário

palavras vivas - nuas.

vocábulos universais:

amora, amo, Roma

7 - Retrato

moldura tosca,

madeira envelhecida

anos de solidão

8 - Hoje

dia ímpar,

calendário Juliano...

só mais um dia

9 - Imortal

minha oração:

eternidade dos versos,

o pão nosso de cada dia!

10 - Quarto

paredes obscuras,

meu rosto à meia luz

incrédulo, estático

11 - Blusa

peça delicada

segredos a par:

intumescidos ou em lactação

12 - Blusas

coloridas, decotadas.

altos relevos,

bicos e picos nos decotes

13 - Porta

portal, batente,

fechadura.

passaporte das palavras

14 - Noite

Três Marias,

Céu de Brigadeiro

e vivas para o Mariado!

15 - Kibutz

pequenas aldeias,

aldeotas,

na tela natureza morta

16 - Portas

labirintos

escuridão,

olhos de gatos no chão

17 - Janela

nada de gerânios vermelhos

o horizonte...

logo ali, uma légua para o infinito

18 - Lua

no céu, noite clara

boca risonha como Flor

no parapeito da janela

19 - Retratos

em branco e preto

retorcidos, furta-cor,

roteiros de paisagens

Vejam os Antiversos de outros autores:

20 - Profundo

morto

negro, vermelho

...nada pacífico

Dreyf

21 - BORDADO

tecido

linha na agulha

... lenço às lágrimas

22 - Famintos

ossos nas costelas

nas panelas

... só tampas

Angela Bretas

23 - Noite quente

roupas no chão

sem lençóis

ronc ronc do ventilador

Marilia Tavernard

24 - Meu desejo

luar do sertão

nuances fantasiosas

tu e eu, a sós

Beth Iacomini

25 - Nossos tempos

sem mais ponteiros

digitais agoras

depois de ontens

Marcelo Marques

26 - Eu em março

mar de mim

navios naufragados

...um outro sol

Rosângela Trajano

27 - ECO

na bonita gaiola

lá, só

um pássaro cativo

Dreyf

...E viva a Poesia!!!

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 03/06/2022
Reeditado em 13/07/2022
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