BULA POETRIX

Como titular da cadeira 05 da AIP- Academia Internacinal Poetrix , divulgo aqui:

Diretrizes da AIP - Academia Internacional Poetrix

COMO COMPOR UM BOM POETRIX

 

 

O QUE É O POETRIX?

 

O Poetrix é um poema de forma fixa composto por título e três versos, com um total de, no máximo, trinta sílabas poéticas. Entretanto, há vários elementos específicos na estrutura do Poetrix que o diferenciam de outros tercetos:

 

1. ESTRUTURA DO POETRIX

 

1.1. TÍTULO

 

Na composição do Poetrix, o título é sempre obrigatório, podendo se apresentar como complementar à ideia, ou dar sentido ao texto e até propor novas leituras, associando-se a cada verso ou com a estrofe como um todo.

 

É importante ressaltar que o título não participa da contagem de sílabas poéticas, o que permite várias possibilidades. Vejam exemplos abaixo:

 

exemplo de título longo

 

A Rosa de Hiroshima não era flor que se cheire

 

Apelido: Litlle Boy

Roupa: Ultravioleta

Alvo: Nosso planeta

 

(Marilda Confortin)

 

A autora deste Poetrix optou por usar um título longo para aproximar a famosa metáfora "Rosa de Hiroshima", conhecida por se referir à explosão de uma bomba atômica, à expressão popular "não é flor que se cheire''. Com isso, evidencia-se o caráter duvidoso, venenoso e mal intencionado daquela Rosa.

 

exemplo de título complementar ao texto

 

SOU

 

humana
uma anã
uma nau sem norte

(Sandra Boveto)

Neste Poetrix, a expressão escolhida para título parece se relacionar individualmente com cada verso do texto. Individualmente também funciona como ideia de síntese ou âmago para definir o sujeito lírico com apenas um verbo: sou.

 

exemplo de título com duplo sentido

Cortejo

bem-te-vi no cemitério
canto fora de hora
boas-vindas à vaidade.

(Saulo Pessato)

O contexto deste Poetrix viabiliza dupla interpretação para seu título, já que cortejo significa galanteio — e o pássaro parece estar "cortejando" alguém com seu canto; mas também pode se referir à ideia de procissão — já que se trata de um cemitério onde um cortejo fúnebre ocorre.

 

1.2. INDEPENDÊNCIA SINTÁTICA DE CADA VERSO

 

No Poetrix, cada verso apresenta independência sintática, de modo que não se separam os termos de uma oração em dois ou três versos só para compor o terceto. Para efeito de rima e métrica, isso é comum em outros poemas, mas, no Poetrix, cada linha tem seu sentido plenamente definido.

 

No Poetrix, essa fragmentação desaconselhada é chamada de “fatiamento”. Observe como esses dois textos apresentam comportamentos sintáticos diferentes em relação aos seus versos:


Texto I

a gente nunca erra
quando faz da paz
nossa arma de guerra

(Álvaro Posselt)


Texto II

i m p r e s s õ e s

Tua pele na minha
Quero mais
D i g i t a i s

(Martinho Branco)

No texto I do haicaísta Álvaro Posselt, a ideia principal do poema é construída num único período dividido em três versos – com uma oração principal no primeiro verso e uma oração subordinada no segundo e terceiro versos. Essa fragmentação, natural em outros poemas, é contra-indicada no Poetrix. Consequentemente, conjunções coordenativas e subordinativas, bem como as próprias orações coordenadas sindéticas ou orações subordinadas, não são adequadas ao Poetrix.

 

Já no texto II, do poetrixta Martinho Branco, cada verso traz consigo seu significado completo em construções sintáticas independentes como propõe o Poetrix. A compreensão do texto se dá por meio da aproximação dessas três leituras, sintaticamente independentes, mas associadas umas às outras, especialmente o título com o terceiro verso.

 

 

1.3 DIVERSIDADE VOCABULAR

 

Por ser conciso, o Poetrix desaconselha repetição de palavras e expressões – a menos que tenham no texto um propósito especial. Da mesma forma, construções sintáticas repetitivas tornam o texto monótono e cansativo, de modo que quanto mais diversificada for a escolha de palavras e a construção de um Poetrix, mais surpreendente ele será.

 

Observe nos exemplos abaixo como se dá o aperfeiçoamento na construção de um Poetrix. Da ideia inicial, ao poema final, o texto passa por uma espécie de lapidação vocabular. Exemplos trabalhados em oficinas de Poetrix em escolas públicas do Paraná.


Exemplo 1 – Jéssica, aluna do Ensino Fundamental

Primeira escrita: sem título ainda

Estou tentando compor um poetrix,
porém acho muito difícil de fazer,
mas quero muito aprender!

(Jéssica)

 

 

Segunda escrita: ainda sem título, mas com o lapidar do texto, conversando com a professora sobre sua construção.

 

Tento compor um Poetrix.

Encontro muitas dificuldades,

enquanto aprendo.

 

 

Terceira escrita: Poetrix final, já com um título, após adequá-lo às Diretrizes da AIP.


Trampolim

Componho Poetrix
Tropeço nas palavras
Salto adiante

(Jéssica)

 


Exemplo 2 – André, aluno do Ensino Ensino Médio

Primeira escrita: apresentação da ideia inicial já com o título definido.

Só você para me fazer rir

Eu adoro o teu sorriso e teu jeitinho de falar comigo
Só de pensar em você
Fico dando risada sozinho

(André)

 

Segunda escrita: exercita-se a ideia de síntese, eliminam-se as repetições, adequam-se as medidas dos versos para não ultrapassar trinta sílabas poéticas.

 

Só você...

 

Adoro seu sorriso

e o seu jeitinho de falar

Dou risada sozinho só em pensar

 

 

Terceira escrita: Poetrix final com conjunções eliminadas e salto alcançado no último verso com a exploração de duplo sentido (rio sozinho = córrego solitário ou riso solitário?)

Você

Adoro seu sorriso.
Seu jeitinho de falar...
Rio sozinho.

(André)


Exemplo 3 – Professora Maria de Lourdes

Primeira escrita: apresentação de um terceto baseado em um fato ocorrido em sala de aula

Desenho de um aluno da quinta série, na aula de Geografia

Em vez de desenhar a mata amazônica
a criança pintou um imenso deserto dentro do mapa
do nosso amado Brasil.

 

Segunda escrita: aprimoramento do terceto para torná-lo Poetrix

 

Desenho de uma criança

 

Em vez da mata amazônica

a criança pintou um deserto

no mapa do Brasil

 

Terceira escrita: Poetrix final com conjunções eliminadas e salto alcançado em elemento surpresa.

 

Desenho infantil

 

Cadê a mata?

Deserto no mapa.

- Pátria amada, Brasil.

 

 

1.4. ELEMENTO SURPRESA

No Poetrix, há ainda um componente especial, outrora definido como “salto" ou "susto”. Trata-se de uma palavra, expressão ou verso que quebra a obviedade do texto e provoca nele um estranhamento, uma surpresa, que dá à leitura nova e enriquecida perspectiva. Alguns exemplos:

 


Texto I

Ponto e nó

ora agulha
ora linha
vida bord(o)ada

(Aila Magalhães)

O uso da letra "o" entre parênteses no meio da última palavra deu a ela uma nova leitura, explorando outro significado: de vida bordada à bordoada. Com isso, o sentido do texto como um todo também acabou enriquecido, dando novas perspectivas para cada substantivo do poema.

 

Texto II

Ortografia

Uma gaivota só
um til sobre a palavra
imensidão

(Anthero Monteiro)

O texto estabelece uma curiosa comparação entre a ave gaivota e a marca gráfica conhecida como "til". Este Poetrix é surpreendente na forma como se encerra, pois apresenta, no último verso, apenas uma palavra que sintetiza a comparação feita: trata-se de um exemplo de termo que faz uso do til e ao mesmo tempo uma expressão lírica acerca do voo da ave no céu.



Texto III

Democracia

Mancha de óleo
Poluição na praia
Bronzeado em dia

(Andréa Abdala)

Há um elemento surpreendente na conclusão deste Poetrix e ele se encontra na relação entre o último verso e o título. Uma vez que a democracia implica direitos e deveres, participados de forma igual aos cidadãos de uma nação, quão fútil pode parecer uma pessoa atenta ao seu bronzeado, completamente alheia aos problemas ao seu redor?

 


1.5. CONCISÃO E SÍNTESE

Apesar da estrutura breve, o Poetrix deve ser capaz de transmitir mensagens completas e, por vezes, complexas de forma leve, exata e concisa. Alguns exemplos:

 

Texto I

Graal

meu corpo
cálice sagrado
arca da aliança

(Goulart Gomes)

Observe como este Poetrix associa a ideia de "corpo" a elementos religiosos e sagrados. Em poucas palavras, propõe a ele, portanto, uma relação de respeito e santidade.

 

Texto II

Sem espaço

Sou fluido
ocupo todo o sentir
mesmo nesse corpo escasso

(Lorenzo Ferrari)

Para escrever sobre a quantidade e grandiosidade dos sentimentos humanos seriam necessárias várias páginas. Esse Poetrix, no entanto, mostra que é possível expressá-los, em poucas palavras, estabelecendo uma interessante relação de abundância num cenário de limitação também em seu tema.

 


Texto III

Maturação

Descansa o poema na gaveta
Hoje, casulo
Amanhã, borboleta

(José de Castro)

Da mesma forma, neste Poetrix, descreve-se, com o mínimo de palavras, o processo longo e complexo da transformação da borboleta e do poema.

 


1.6 LINGUAGEM POÉTICA

O Poetrix é, antes de tudo, uma composição literária. Como tal, tem o propósito de provocar encantamentos nos seus leitores e chamar a sua atenção muito mais pela maneira como algo foi dito do que pelo que efetivamente foi dito. Privilegiar múltiplos significados, atentar-se à sonoridade, ritmo e outros elementos estruturais de um texto, contribuem para a criação de uma linguagem especial, poética, daí a importância do uso de Figuras de Linguagem. Veja alguns exemplos de Figuras de Linguagem em Poetrix:

 


Texto I

PASSAGEM

Medicina se esgotou
entrou na eternidade
descansou

(Dirce Carneiro)

A Figura de Linguagem utilizada nesse Poetrix é Eufemismo. Consiste em suavizar um fato, consolar alguém. Neste caso, amenizar a morte de uma pessoa querida.

 


Texto II

TEMPO ALHEIO

uma gota de suor: tibum!
perdeu-se na caligrafia...
falta muito pro recreio?

(Diana Pilatti)

Aqui, a autora usou a Onomatopeia (tibum), que é a formação de palavras ou fonemas com o objetivo de imitar sons de coisas, animais ou ações.


Texto III

CONDENSADA

degelo no teu corpo
estiagem e tormenta
chovo

(lílian maial)

Neste Poetrix a autora usa a Metáfora, para se identificar com fenômenos da natureza. Usa também a Figura Paradoxo (estiagem x tormenta).


2. TEXTOS RECOMENDADOS

Alguns elementos do Poetrix descritos nas Diretrizes, receberam um texto complementar escrito por acadêmicos da AIP. Recomendamos a leitura:


A arte do título – Por José de Castro
Elemento surpresa – Por Lílian Maial
As Figuras de Linguagem no Poetrix – Por Saulo Pessato
Fatiar ou não fatiar, eis a questão – por José de Castro

 

Além desses, estão postados no Blog da AIP vários outros textos significativos para quem quiser se aprofundar na arte de escrever um bom Poetrix. Todos os textos podem ser encontrados no gadget (agrupamentos em caixas, nas laterais do blog) sob o título "Textos sobre Poetrix"   

 

Diretoria da AIP
Enviado por Isiara Caruso (IsiCaruso) em 14/11/2020
Reeditado em 31/01/2023
Código do texto: T7111596
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.