Culturatrix
Creio que minha sina seja escrever teorias literárias sobre o Poetrix, um terceto que me encanta de verdade! Espero que fiquem registradas como contribuições de minha participação na história desses versos.
O que estou propondo neste novo desafio é semelhante a uma vertente apresentada por Goulart Gomes, há bem pouco tempo. Sua proposta consiste na disposição de três obras literárias sobrepostas, de modo que os seus títulos configurem os versos de um poema. Quando o leitor se deparar com um desses arranjos, espera-se que ele identifique ali, um Poetrix.
Como a ideia dele é fazer isso concretamente, ou seja, usando os livros, propriamente ditos, tais montagens nos permitem retirar livros das estantes e os colocar sobre as mesas ou prateleiras, como objetos de decoração poética. Algo interessante, criativo e atual.
Minha teoria, na verdade, é uma extensão do que foi proposto pelo poeta Goulart Gomes, só que, com uma nova estratégia e abrangência.
É como se forjássemos um novo caminho a ser trilhado, sem o auxílio dos livros, mas que trouxesse alguma coisa semelhante.
Na teoria, que estou chamando de Culturatrix, os versos não são formados através da sobreposição de livros, mas por vocábulos e títulos de obras que identifiquem uma personalidade importante para a Cultura como um todo.
As palavras chaves são os títulos das obras escolhidas ou vocábulos que identifiquem o homenageado.
Serão as informações/dicas que revelarão o nome do personagem - um enigma, a grosso modo.
Reforçando, é uma homenagem às pessoas que foram e são importantes para a Cultura mundial.
O texto do Culturatrix pode conter uma ou mais palavras, ou títulos de obras, que identifiquem o autor a quem queremos homenagear.
Se, por algum motivo, o leitor não vislumbrar de imediato o homenageado, ele vai ler o Culturatrix como um Poetrix convencional, sem nenhum problema. Isto nos leva a acreditar que alguns Culturatrix, poderão ter "mais de um terceto", em um único texto.
Já fiz esta experiência publicando um Culturatrix. Alguns leitores passaram literalmente em branco por ele, não alcançaram o que estava subentendido nas entrelinhas. Acredito que isto se deva ao fato de não conhecerem os autores citados, suas obras ou suas falas e características, ou até mesmo por lerem rapidamente o texto. Mas isto não quer dizer que tenhamos que escolher só títulos ou expressões mundialmente conhecidas do grande público.
Quando o leitor percebe o que está dito nas nuances do Culturatrix o "susto" é inevitável.
Alguns exemplos do que estou propondo:
1 - Alegoria
O Beijo
na Porta do Inferno
assustou o Pensador
Veja que neste Culturatrix temos os títulos de três importantes esculturas: O Beijo, Porta do Inferno e Pensador. Obras plenamente consagradas, do escultor francês Auguste Rodin.
Pode ocorrer que o leitor não associe os versos às obras. Se isto acontecer, ele não deixará de ter, à sua disposição, um Poetrix convencional.
2 - Girassóis
doente, quase louco,
decepou a orelha
para não ouvir gritos noturnos
Este Culturatrix tem informações bem claras: girassóis, louco, orelha, gritos, noturnos. Por isso, fica fácil saber que estou homenageando o pintor holandês Van Gogh. Para quem não conhece esses registros da vida e obras deste gênio, o poema é pesado, cheio de sentimentos dolorosos e carregado de sinais de loucura, sem que todas estas verdades sejam associadas a ele.
3 - Bandeira
trinta e três...
__ respire fundo
o tango é argentino
Neste exemplo as pistas são relativamente claras, mas é preciso que o leitor esteja atento ao que foi proposto.
Observe que no primeiro verso temos um fragmento do poema Pneumotórax, de Manuel Bandeira. Uma pista sutil, que é reforçada com o segundo verso, quando digo: __ respire fundo.
A nomeação deste Culturatrix ficou como uma outra pista. Acho que era necessária, mesmo com a popularidade do poema.
4 - Cores brilhantes
O Almoço dos Barqueiros...
Duas Irmãs,
Garotas ao Piano
Neste exemplo nós temos três títulos de obras primas de Auguste Renoir, um dos mais importantes pintores do Impressionismo francês: O Almoço dos Barqueiros, Duas Irmãs e Garotas ao Piano, que compõem os três versos do poema.
Nele, como no anterior, dei nome. Aqui porém, para que fique caracterizado que é um Poetrix. O título, Cores brilhantes, também pode ser considerado uma pista importante. Renoir tinha como uma de suas características mais marcantes as cores fortes e brilhantes.
5 - Academia
eu passarinho
... talvez
um beija-flor poeta
Neste Culturatrix temos um fragmento no primeiro verso, como sendo um indício para a descoberta do homenageado: "eu passarinho!". Acredito que a associação ao poeta Mário Quintana, seja tranquila. Para reforçar a pista, temos no terceiro verso uma vestígio forte que é a palavra - poeta.
O título é um contraponto, em decorrência de sua candidatura à Academia Brasileira de Letras, quando foi derrotado por três vezes. Possivelmente uma das razões que o levaram a escrever uma quadra tão conhecida e admirada.
Por outro lado, especula-se que os critérios de escolha dos membros da Academia Brasileira de Letras no período da ditadura militar no Brasil,
não estariam relacionados apenas à criação literária dos grandes escritores, mas também às questões políticas e sociais.
Infelizmente estas questões jamais serão respondidas. Perpetuarão no imaginário dos apaixonados pelo "quase" Imortal, que agora voa em nossos pensamentos.
6 - Baiano
três potes, três potes...
ora, ora
trix e, pô!
Aqui a palavra chave do texto é "Poetrix" que está grafada de trás para frente, no último verso.
Uma segunda pista pode ser vista no título. Uma referência a Goulart Gomes, criador do Poetrix, poeta baiano.
Lembro que a expressão "três potes" é uma referência a uma ave brasileira, cujo canto parece dizer: três potes, três potes. Elas cantam em dueto, macho e fêmea. Por isso arrematei ora, ora... Minha intenção foi fazer referência aos três versos do Poetrix.
Quem não se der conta do Culturatrix, vai ler um terceto articulado.
Este é um exemplo que, na verdade, foge um pouco, em termos de construção, à ideia que estou propondo.
Só consta nele a palavra Poetrix, e, ainda assim, "escondida".
E apenas se refere à origem do poeta.
Mas não quis me furtar à oportunidade, bem humorada, de homenagear a quem tanto admiro!
Vejam, a ordem dos versos não altera o sentido do poema.
1 - Baiano
ora, ora
três potes, três potes...
trix e, pô!
2 - Baiano
trix e, pô!
ora, ora
três potes, três potes...
E viva a poesia!!!