Pensando nas rimas
Sempre quis escrever sobre este tema, mas todas as vezes que começava, recuava. Dava um passo para a frente e dois ou três para trás. O motivo é simples: muitos poetas são afeitos a este recurso que é consagrado de longas datas. Porém acredito que a poesia evoluiu muito nas últimas décadas, principalmente depois da Semana da Arte Moderna.
Em tempo... Essa avaliação está voltado exclusivamente para o Poetrix, terceto que busca basicamente o susto, a concisão e a leveza.
Não é que tenha aversão às rimas, pelo contrário. Quando bem colocadas ficam bonitas. Mas quando são usadas no Poetrix, aí sim, me deixam apreensivo quanto a qualidade do poema.
É importante salientar que o Poetrix é bem liberal. Suas características são bastante benevolentes com o escritor. O poeta é altamente beneficiado com suas regras, em comparação, por exemplo, ao Haicai. Acho até que as trinta sílabas poéticas são generosas. Mesmo assim, raramente vemos Poetrix com essa quantidade elástica de sílabas.
Com o intuito de ilustrar o que estou defendendo, tomarei como exemplo o resultado do III Concurso Internacional de Poetrix. Vou me ater inicialmente aos três primeiros colocados.
Veja que, em nenhum deles, nos deparamos com qualquer tipo de rima. Na minha opinião este recurso estilístico pode enfraquecer por demais o Poetrix.
Vejamos os Poetrix em questão:
1º - O princípio das coisas
tinha tanta certeza
que morreu
com certidão
Carlos Theobaldo
2º - Tarefa
em gestos de prisma
desperto a lassidão das pedras
nas muralhas do cansaço
Maria Guilhermina Kolimbrowsky
3º - Instante
La sutil mariposa
Rozó tu negro pelo
Eclipse total
Mirta Lilian Urdiroz
Veja também que o primeiro poema rimado só apareceu na oitava colocação.
A rima: “não" com "coração” é bem interessante.
8° - Paixão
dia sim, dia não
amor alfineta
meu coração
Ercília Bittencourt
Se compararmos o Poetrix “Tarefa” com o poema “Paixão”, vamos observar uma diferença no conteúdo.
A rima “não - coração” parece aprisionar o poema. Os versos livres do poema “Tarefa” e principalmente as palavras “lassidão” e “cansaço”, no final do terceiro verso, nos levam a acreditar que depois do tédio teremos o descanso merecido. A força poética se torna imensa. Nos possibilita inúmeras interpretações. O poema “Paixão” nos remete ao nosso Eu, enquanto pessoa amante.
Relembro que estas são considerações minhas.
E viva a poesia!!!