“Poetrix/ falta muito/ ou ficou por um trix?” Pergunta aberta a quem queira responder...
Caríssimos teóricos e não teóricos de todos os cantos e recantos, conto com vocês para que iluminem com suas superiores luzes a minha densa ignorância quanto a esta já nem tão recente modalidade de formatação poética: o Poetrix.
Como se sabe, o Poetrix é invenção do poeta baiano Gomes Goulart e, portanto, coisa brasileiríssima. Até aí, tudo bem, mas a pergunta é: como é que se faz para elaborar um Poetrix?
Por favor, venham comigo. Vamos imaginar uma foto em preto e branco ou sépia. A imagem é atemporal. Numa estação de trens, um casal de velhos está sentado num banco, olhando para os trilhos. No ambiente tudo parece meio depressivo. Não há nenhuma nuvem no céu cinzento. É provável que seja outono, pois uma árvore ressequida e sem folhas, é tudo que se vê ao longe nesse cenário desolado e triste.
Pergunta: como construir, a partir disso, um Poetrix? Esperem, meus amigos, não respondam ainda, quero ampliar um pouco o escopo da questão.
Posso começar descrevendo (de forma sintética, talvez poética) uma cena assim:
Os pais veem no dormente quebrado do trilho torto a sombra magra do filho ausente, atropelado e morto pelo trem e sabem que a espera é inútil.
Se, a partir dessa sinopse, o caso fosse escrever um soneto, por exemplo, creio que a tarefa seria menos árdua. São duas dúzias de palavras que sugerem imagens (e até mesmo rimas) mais que suficientes para isso. Então, como o caso é o inverso, ou seja, não se trata de ‘escrever mais’ e sim de ‘escrever menos’, podemos experimentar ir suprimindo do texto algumas palavras, usando o artifício do parêntesis. Vejamos:
(Os pais veem no) dormente (quebrado do) trilho torto (a) sombra (magra do) filho (ausente, atropelado e) morto (pelo trem e sabem que a) espera (é) inútil. Agora ficamos com: dormente, trilho, torto, sombra, filho, morto, espera e inútil. Oito palavras e ainda sobraram dois pares de rima: torto/morto e trilho/filho. Talvez pudéssemos colocá-las assim:
Título: Luto
Texto: No dormente do trilho torto
a sombra do filho morto
espera inútil.
A mim me parece que a palavra dormente tem uma sonoridade interessante e, além de significar a base de apoio do trilho, suscita pensar em dormir ou, talvez, na morte. Noto ainda que ‘a sombra do filho morto’ cria um cacófoto: a sombra do = assombrado. Deixem-me ver como fica:
Título: Espera inútil
Texto: No dormente do trilho torto
assombrado
filho morto.
Será que é por esse caminho? Terei escrito o meu primeiro Poetrix?