Duplix? Que poema é este?

Para falar sobre o Duplix, vou reportar-me ao Poetrix, uma vez que este é a matéria-prima de toda a cadeia do processo produtivo. É a partir dele que se constrói um Duplix.

Desta forma, alguns entraves devem ser levados em consideração. O primeiro deles é a autorização do uso de obras de terceiros, que deve ser solicitada aos autores dos Poetrix.

Os chamarei, a partir de agora, de Poetrix/base.

Esta é uma questão delicada que ainda não foi totalmente resolvida. Felizmente nada de desagradável aconteceu até o presente momento.

O fato é que, quando compomos um Duplix, estamos sinalizando para o outro autor, que gostamos do seu poema. Partindo desta premissa, jamais usaremos um Poetrix, de quem quer que seja, para fazermos um Duplix que vise à destruição do Poetrix/base. Não acredito que alguém deva fazer um Duplix usando um Poetrix que não tenha lhe chamado a atenção ou que não seja algo de que tenha gostado muito.

Outro problema que gostaria de abordar é a questão da publicação. Nem sempre nós podemos pedir aos nossos "parceiros" a devida autorização para a publicação do Duplix. Por isso é imprescindível que publiquemos o nome do autor do Poetrix/base juntamente com o nosso.

É importante ressaltar que, quem dita os meandros do Duplix, é o Poetrix/base. É ele que nos oferece a direção a ser tomada. Porém, existem casos em que o Duplix muda o sentido que o autor do Poetrix/base deu ao seu texto, isto pode causar algum constrangimento a ele, mas vale ressaltar que esses casos têm sido raros e nada comprometedores.

Como o segundo Poetrix pode mudar o sentido da mensagem do primeiro poema, isto não significa que o texto original perdeu seu significado, muito pelo contrário, ganha uma nova leitura, uma nova dinâmica, uma sobrevida.

É interessante fazer esta observação porque alguns Poetrixtas não lidam bem com esta possibilidade.

No entanto, é preciso ter em mente que o poema original não pode ser alterado, ele permanece como foi gerado. Sua leitura e conteúdo, são intocáveis.

Vou tomar como Poetrix/base um “terceto” de Platão, para poder exemplificar o que vem a ser esta nova forma de se fazer poemas compartilhados.

1 - Apologia

Deus me obriga a agir como obstetra,

porém,

veda-me de dar à luz.

A partir deste Poetrix, criarei um Duplix. Tornar-me-ei um parceiro vivo de Platão no instante em que colocar um ponto final na "nossa" composição.

1 - Apologia /// Paz e amor

Deus me obriga a agir como obstetra,//um homem iluminado,

porém,//todavia, contudo, não obstante

veda-me de dar à luz.//..um singelo raio de sol.

(Platão, 428-347 AC) - Pedro Cardoso

Dentre os comentários que recebo sobre os textos que escrevo, está o que o Poeta Jorge Manuel Amaro fez em relação ao Duplix de um modo geral, conforme segue:

“No caso de um Duplix, os dois Poetrix tem que fazer sentido isoladamente e em grupo, ou seja - quando se faz Duplix, o leitor deve ser capaz de ler o texto tanto individualmente na vertical, como em

Duplix na horizontal, isto sim, para mim, dá a beleza aos Duplix”.

Este, na verdade, é o maior segredo do Duplix, é o ponto central desta discussão. Observe que ele ressalta a atenção que se deve dar à leitura dos Poetrix. Deixa claro, e isto é fato, que as leituras terão que ser feitas individualmente para cada poema; tanto na horizontal quanto na vertical, com isso, o leitor deve “enxergar” os três poemas que compõem o Duplix, de forma independente e cristalina.

É vital registrar que o Duplix não é um simples adendo aos versos. Ele nos obriga a fazer as três leituras completas - literais. São elas que o diferenciam de um simples complemento de poema.

Só assim, poderemos confirmar se realmente o poema é, ou não é, um Duplix.

Deveria-se iniciar a leitura sempre pelo segundo Poetrix, assim sendo, o leitor estaria, de pronto, fazendo uma análise prévia do Duplix.

Muitas vezes o segundo Poetrix não faz sentido isoladamente mas compõe o Duplix. Ou o contrário, ele sozinho tem significado mas em conjunto não.

Tudo isso compromete a parceria.

Uma das grandes dificuldades de se fazer um Duplix está no fato de que não podemos, em hipótese alguma, alterar o Poetrix/base. Este é um dos motivos pelos quais não aceitamos o auto-duplix, muito embora alguns o façam.

Às vezes o segundo Poetrixta não leva em consideração a pontuação do Poetrix/base, isto deixa o Duplix menos atraente. Sua leitura fica comprometida, truncada.

Por sorte, alguns Poetrixtas compõem os seus poemas sem a “devida” pontuação, deixando para o segundo Poetrixta uma "certa" liberdade. Este artifício - perfeitamente aceito, favorece o segundo Poetrixta, pois algumas alternativas ficam em aberto. Porém o autor do Poetrix/base corre maiores riscos de ver o sentido inicial do seu poema alterado.

O Duplix é uma composição a quatro mãos, é uma estampa que funciona como peças de um quebra-cabeças. Se as peças não estiverem perfeitamente encaixadas, não oferecerão uma boa leitura, uma boa estética, um bom casamento.

E viva a poesia!!!

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 05/11/2006
Reeditado em 13/07/2020
Código do texto: T282738
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