BERLINDA 28: MATA ATLÂNTICA, por Ricardo Mainieri
O que é a BERLINDA? A Berlinda é um exercício de prática e crítica poetríxtica realizado no grupo virtual LITERATRIX (para participar do grupo é só enviar um e-mail para
literatrix-subscribe@yahoogrupos.com.br).
Nele, é apresentado o poetrix de um autor ao grupo, sem identificação de autoria (anônimo). A partir daí, os integrantes do grupo podem expressar livremente – mas com ética e argumentos – a sua opinião sobre aquele poetrix. Ao final de um período pré-determinado é revelado o nome do autor do poetrix berlindado, que tem direito a fazer os seus comentários.
BERLINDA 28 - Mata Atlântica
em teu verdazul
ancoro meus olhos
ainda preservados.
Ricardo Mainieri
COMENTÁRIO DO AUTOR:
Queridos poetas:
Muito me agradou participar desta Berlinda.
Devemos estar maduros para os elogios e também para as críticas construtivas.
Alguns poetrixtas falaram da sonoridade do neologismo "verdazul".
Concordo com eles em boa parte, pois a fusão dos termos resultou numa sonoridade exótica, mais dura e, de certa forma, fugiu da sutileza musical que costumo imprimir aos meus poemas.
Porém, existe uma explicação para isto. Ao fundir as cores do céu, mar e florestas me permiti a criar este termo sintetizando a idéia visual.
Assim a mistura de cores tem uma contrapartida gráfica: o neologismo
Este poema tem uma proposição ecológica e social. Fala que, poeticamente, ancoro os olhos na paisagem, mas o que está preservado, ainda, é meu instrumento de visão e não a Mata Atlântica devastada por inúmeros desmandos humanos.
O poema serve como um eco para a quase muda luta preservacionista, atropelada no Brasil por interesses externos e internos.
Marina Silva que o diga...
Obrigado a todos e um ótimo dia.
Ricardo Mainieri
COMENTÁRIOS DOS INTEGRANTES DO GRUPO:
ROSA PENA:
Pois então.... Mantendo a tradição lá vou ser a primeira a comentar.
Amei de paixão.
Antes a gente tentava advinhar o autor, vou tentar novamente. Esse poetrix deve ser do Deja.
Explicando o porquê do meu gostar:
O título interagindo de forma perfeita com os versos.
A amada de olhos cor de mata entre o verde e o azul leva o amante a ancorar (no sentido de finalmente aportar) de vez neles. E mais lindo ainda é ele dizer que seus olhos foram preservados para morar nesse olhar verdazul da amada.
Lindo demais e me emocionou à vera!
Parabéns autor(a). Aplausos
REGINA LYRA:
Poetrix de beleza ímpar. Tem versos e poesia.
Parabens, nada a acrescentar.
LILI Poeta:
Não sei porque lembrei da Andra quando li esse poetrix.
Não gosto do "verdazul" - para mim soa estranho. Entretanto os demais versos são de um profundo encantamento. É maravilhoso imaginar os olhos ancorados no verde da mata. Ficar ali, prá sempre, só olhando... olhando... olhando (quem dera!)
Belíssimo poetrix!
PEDRO CARDOSO:
Concordo com a Lilipoeta, o primeiro verso realmente soa estranho, acredito que ficaria mais bonito se fosse “verde azul”, o que não mudaria muita coisa, mas a leitura ficaria mais linear. Os outros dois versos são excelentes. Os olhos ainda preservados nos deixam a sensação de que algo pode mudar com os constantes desmatamentos. O título “Mata Atlântica”, me pareceu um grito de alerta para um dos mais importantes e devastados ecossistemas brasileiros. Viva a poesia!!!
LOREZO FERRARI:
Num primeiro momento me prendi ao título.
Mata atlantica (florestas, preservação etc...)
Em teu verdeazul (Verde azul mata azul? )
ancoro meus olhos (Tudo bem nos seus olhos verdeazuis ancoro os meus...)
Neste ponto já começou a pegar para mim.
Cade o mar na mata atlantica?
Porque ancorei e não escalei ou não subi? Sei lá...
Fiquei pensando num barco chegando na mata atlantica...
Ainda preservados (Ai venho a questão da preservação)
Quer dizer o título só remete a última estrofe só para dizer que meus olhos são virgens, ou seja nunca viram verdeazuis assim...
Tudo isso simplesmente analizando o que eu senti.
Do ponto de vista poético ancorar olhos é fino, até chique, e gostei dos olhos preservados. Ficou um sentido exepcional. O que matou foi o título. Fiquei ligado na Mata Atlantica perdi o barco chegando e ainda ficou parecendo que meus olhos são uma árvore preservada tipo um pau Brasil original. rs...
Eu trocaria o título e o verbo ancorar só usaria com um outro título.
CARLOS
Interessante este poetrix aparecer depois de ‘desabrigado’ onde desisti de investigar antes de chegar a compreendê-lo.
Neste caso, a leitura do poetrix indicou que o segredo estava no título, para mim desconhecido. O simpático Google levou-me à Wikipedia e a peça que faltava foi revelada - a Mata Atlântica.
Encontrei neste poetix múltiplos contrastes de cor, elementos e uma surpresa (desejo) final da autora no ‘ainda’.
Parabéns.
DREYF:
Gosto da associação feita pelo(a) autor(a) entre o mar e a mata: o mar da floresta. Nessa simbologia poética, faz sentido, e belo, o ancoradouro dos olhos.
Olhando de longe a montanha, a vemos azul. Como azul é a cor de tudo que é distante e profundo. Mesmo o mar, do alto, se vê azul, apesar do verde das suas águas, e das matas, no caso das florestas.
Embora o verdazul do primeiro verso não me agrade na composição, assim será pronunciado na leitura poetrix: verde_azul. Mas acho que, ainda assim, verde azul (com o "e" quase que dito) é mais sonoro e poético)
No mais, o título é a manchete do alerta que o último verso nos traz: olhos "ainda" preservados. Sim, pois, em breve, talvez não tenhamos mais para o que olhar!
Bem feito!
MARILIA:
Eu reforço o time, gostei do poetrix, quando li imaginei que o título poderia também ser AMAZÔNIA .
ISRAEL DOS SANTOS:
Arrisco comentar o texto sob a ótica meramente ecológica, que é a minha interpretação da criatividade do autor.
Raramente múltiplas metáforas me soam bem. Entretanto, neste caso, ademais de satisfazer os parâmetros de um poetrix, a mensagem, reflexiva, pareceu-me linda e bem transmitida. Com efeito, em dados momentos, mesclam-se o azul e o verde na paisagem da mata; é, então, um encanto poder "navegar" o olhar, até fixá-lo naquela rica beleza natural, ainda preservada.
A composição dos vocábulos, o recado passado e a abertura que dá a outras interpretações, para mim, são pontos fortes nesta Berlinda de número 28.