BERLINDA 26: MATUTO COM SAUDADE DE CASA, por Andra Valadares

O que é a BERLINDA? A Berlinda é um exercício de prática e crítica poetríxtica realizado no grupo virtual LITERATRIX (para participar do grupo é só enviar um e-mail para

literatrix-subscribe@yahoogrupos.com.br). Nele, é apresentado o poetrix de um autor ao grupo, sem identificação de autoria (anônimo). A partir daí, os integrantes do grupo podem expressar livremente – mas com ética e argumentos – a sua opinião sobre aquele poetrix. Ao final de um período pré-determinado é revelado o nome do autor do poetrix berlindado, que tem direito a fazer os seus comentários. Abaixo, apresentamos o poetrix berlindado no mês de Agosto/2009, com os comentários dos participantes e da autora.

------------------------

26. MATUTO COM SAUDADE DE CASA

Fel

i

cidade

Andra Valadares

26A - Se poderia dizer que a essência do minimalismo é: "expor o máximo com o mínimo". Neste poema, assim está feito. A mim, contudo, fica o gosto de algo sem margem de interpretação. É como o jogo do bicho: vale o que está escrito. Não consegui "viajar" na saga desse matuto. Construtivamente é um poema fiel às regras do palavratrix!

Dreyf

26B - Sem dúvida um belo poema. Atende perfeitamente à regra do Palavratrix, que pressupõe a abrangência do título em relação ao duplo sentido da palavra. O título nos leva a duas leituras: em uma, quando ele volta para casa, fica feliz da vida, já a outra leitura nos leva a entender que o matuto vivia um inferno na cidade. O texto também oferece duas leituras distintas, a primeira é o vocábulo “felicidade”, prosperidade, beleza. Na segunda leitura temos “Fel_ i_ cidade”, (com a licença poética permitida) mais uma vez nos remetendo ao inferno da cidade grande. Este Palavratrix é o retrato daqueles que vão em busca de uma vida melhor na grande cidade e que, no fim, percebem que a felicidade está na sua cidade natal, no aconchego da família e dos amigos, então o voltar para casa se transforma em um sonho real e maravilhoso. E viva a poesia!!!

Pedro Cardoso (DF)

26C - Na berlinda se encontra um poetrix. Como tal, o texto me parece bem à luz do título: no terceiro verso bem retratanto a linguagem inculta do Fel (Felix, Felisberto, Feliciano ... ou algo assim). Mas , o título me confunde um pouco; não consego vincular a saudade de casa à felicidade do matuto, no meio urbano (melhor compreenderia se lesse "Féu / i / cidade"). Não obstante, ao autor, que saberá esclarecer a dúvida, meu forte abraço.

Israel dos Santos.

26D - Assim como a Pena, eu tb não curto o palavratrix, aliás, não curto nenhum trix que não seja poetrix e suas derivações poéticas (duplix, triplix). O minimalismo é desejável, mas, se no poetrix lutamos contra uma frase dividida em 3 versos, pior é uma única palavra dividida em sílabas. Mas, enfim, concordando com a Pena, há quem curta. No caso, não há o que discutir ou propor. O título é o ponto alto, e a palavra dividida deu bem o recado. É uma brincadeira legal com as palavras e, neste caso, muito bem bolada.

Lílian Maial

26E - Eu, particularmente, gosto de poesia que me leve a emoção . O palavratrix é razão, cálculo, vejo como um exercício de caça palavras, um jogo . Mas agrada a muita gente. Na nossa antologia todos daqui que leram adoraram, por acharem inteligente. É inegavel que esse está muito bem feito, pois o título induz de forma perfeita a compreensão.

Rosa Pena

26F – O título, indubitavelmente, é o centro do poema. É a mensagem simplista(sic) do palavratrix. É, é no título que a mensagem se constrói. Diferentemente de qualquer outro texto literário... (aceito qquer discusão nesse sentido) é, é aqui no título que a mensagem não só se constrói como se permite qquer desconstrução. É lindo o título pela sua amplitude e pela sua completeza. A imagem é viva, as palavras traduz toda a cena, exceto o interior. O interior é a divisão, o conflito, a incerteza. O amagor da vida na cidade (o fel), ou as facilidades que a vida urbana permite o que o estar rural não aceita. Um eterno conflito. E isso fica mais palpável para aqueles que migraram de uma para outra vida, em qualquer sentido. Quem sempre foi urbano, ou quem sempre foi rural não há de "viver internamente" esse conflito. Eu, particularmente, não gosto das "licenças poéticas". Aliás, não gosto de nenhuma licença dentro desse conceito. Se se permite o erro em nome de uma construção, qualquer que seja o mote, porque então condenar o "lincenciamento" em outras construções? Estamos vendo aí na nossa vidinha política o que foi construído em razão das permicividadades ou dos lincenciamentos.

O elo poema, na sua propositura ele é belo, se perde exatamente pela "licença poética" construída pel(o,a) autor(a). O que o "i" nos permite como contexto? Uma conjução? Nesse caso talvez se construído como "ihh!" onde conotasse uma repulsa à vida urbana ele, o poema, não perderia em sentido, mas ganharia em construção. Assim?

MATUTO COM SAUDADE DE CASA

Fel

ihh!

cidade

Devemos lembrar que a proposta do palavratrix não se restrinte à grafia. Há, nela, uma amplitude maior onde, pelo menos no português, uma aliança entre o som da sílaba e suas nuances, e as possibilades múltiplas dos sentidos. A intenção para mim foi clara em mostrar a repulsa do matuto. As dificuldades da vida urbana comparando ao que lhe era permitido enquanto viva rural. A decepção, o desencanto, a saudade - ela mesma! Parabéns pela proposta! O poetrix, esse palavratrix traz emoções, sentidos e sentimentos. Eu, que tenho origem na roça, matuto que fui, coió, como erámos chamados anos atrás, me permiti uma leitura muito particular desse poetrix. Particularidade que me obriga a blindá-lo como um espumante de brimeira. E fiquei completo de "Fel(i)cidade" com essas reminicências todas. Obrigado pela oportunidade de lê-lo. Eu voltei a cinquenta anos atrás, e a viagem foi ótima.

Hércio

26G - Olha eu sendo o "chato" da turma dessa vez, muito massoquista esse matuto, por ser feliz em meio á armagura(o fel), bom pelos comentários vcs acharam que é apenas um grande saudosista(rs...rs..) Assim como está o palavratrix apresenta, na minha opinão "desbundada", duas falhas:

- o título faz uma volta tremenda, e perde um pouco da concisão do poetrix;

- a relação feita pelo autor parece ter negligenciado, a "duplicidade" do palavratrix, na relação com o significado original da palavra felicidade.Pois fel significa "amargura" "sofrimento" não combina muito com um estado de "felicidade", lembrem-se no palavratirx não é importante só a criação de uma relação poética com a divisão da palavra em três, mas também uma "resimbolização" da palavra dividida(original). Ao meu ver ficaria muito mais forte o palavratrix com um simples resumo(ou troca) do título por exemplo para: "RETIRANTE" . Ao meu ver essa palavra se encaixa melhor pra definir a idéia, porque além de representar o sujeito que abandona sua terra natal, e vai sofrer cm oas dificuldades da metrópole.Representa também a aparente dificuldade de buscar a felicidade, a felicidade em fuga-retirante.

FAbio R.

26H - Um palavratrix "selfexplicativo". Deve ser amargo para o beradeiro viver fora da roça!...

O poemeto segue a regra consagrada pelo grupo e demonstra criatividade do autor. Gostei do bichinho e mando parabéns para o autor!

26I - rezado autor: torna-se impreticável comentar uma palavra fatiada a facão. os dois títulos para a mesma palavra são muito bons!... (estou me referindo também à "felicidade" da Kate)

com uma breve ressalva: o teu é bem melhor!... pois, como bom nordestino, sei que qualquer cidade é cidade grande quando se sai de casa, não necessáriamente SumPaulo. Lenda é lenda!... há pouco acabei de ler Serafim Ponte Grande - duas semanas, mais ou menos -; e me dei a pensar: "A loucura e a arte, quando modernas, são para poucos!..."

deja

26J - Não tenho prestado muita atenção, mas parece que o palavratrix resulta de partir uma palavra de modo que algumas partes revelam sentidos não aparentes ou mesmo contraditórios em relação à palavra completa. É o caso do contraste de ‘fel’, ‘cidade’ e ‘felicidade’. Tanto no tema da berlinda 26 como no outro palavratrix que usa a mesma palavra, o titulo apenas vem reduzir o que já estava explicito. Cada leitor pode imaginar outras situações (títulos) para a palavra 'fel-i-cidade'. Por outro lado, este quebrar da palavra parece agradar principalmente ao lado linear, sequencial e lógico do cérebro, um pouco como as ilusões de óptica, que valem apenas pela surpresa. Creio que um poema ou poetrix tem de ser mais que um simples jogo com sons ou palavras, tem de chegar também ao lado global, intuitivo ou de fantasia, o que se já é difícil de conseguir num poetrix, mais difícil será num palavratrix.

~carlos

26K - Eu não sou fã do palavratrix. Mas alguns me fazem apreciá-los (de longe). Este foi um deles. Parabéns.

Regina Lyra

COMENTÁRIOS DA AUTORA:

Gostaria de agradecer aos participantes do grupo que comentaram meu palavratrix e também aos que apenas leram e preferiram não se manifestar.

Realmente o palavratrix e também aos que apenas leram e preferiram não se manifestar.

Realmente o palavratrix é uma “modalidade” que gera certas discussões pois não há como se vincular uma palavra a um autor. Mas acho que isso também é muito interessante pois podemos perceber como cada um de nós processa um código de forma diferente.

O que me inspirou esse palavratrix foi a música “FELICIDADE” de Lupicínio Rodrigues (Felicidade foi-se embora e a saudade no meu peito ainda mora e é por isso que eu gosto lá de fora porque sei que a falsidade não vigora...). Eu estava montando um repertório de músicas para uma apresentação quando um amigo me sugeriu essa música, quando comecei a escrever o título percebi que daria um palavratrix e procurei passar no poema uma mensagem parecida com a música.

Não há muito o que explicar além disso, o palavratrix é algo que se “pega no ar” e não tem muita explicação.

Um grande abraço a todos.