BERLINDA 25: Poetrix abc, de KSH
O que é a BERLINDA? A Berlinda é um exercício de prática e crítica poetríxtica realizado no grupo virtual LITERATRIX (para participar do grupo é só enviar um e-mail para
literatrix-subscribe@yahoogrupos.com.br). Nele, é apresentado o poetrix de um autor ao grupo, sem identificação de autoria (anônimo). A partir daí, os integrantes do grupo podem expressar livremente – mas com ética e argumentos – a sua opinião sobre aquele poetrix. Ao final de um período pré-determinado é revelado o nome do autor do poetrix berlindado, que tem direito a fazer os seus comentários. Retomamos este exercício no mês de Julho/2009, e o primeiro poetrix berlindado nesta nova série, vigésimo quinto da série completa, é o apresentado abaixo, com os respectivos comentários dos poetrixtas e do autor.
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BERLINDA 25
abc
de guarda
no degrau
deus
Autor: KSH (Carlos – Kalos Scissorhands)
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COMENTÁRIOS:
25A - Se pertinente, eu me atreveria sugerir a complementação do título: Do ABC, no entendimento de que o poetrix versa sobre ö indivíduo". Esta alteração não se aplicaria se o objeto do texto é o "movimento" ou o Partido.
Israel dos Santos
25B - Olá amigos, como diz um fofoqueiro famoso na tv:"agora vou destilar o meu veneno"
o título a primeira vista remete a algo displicente,parece que está ai só para cumprir a obrigatoriedade do título no poetrix.Mas,ai embarcando no texto(inconscientemente)o "abc" poderia ser compreendido como as "lições de boa conduta moral e comportamental" que são nos dada pela família,pela escola e pela igreja..."minino seja bonzinho que deus está sempre vigiando..se vc não for ele manda o diabinho espetar suas nádegas"...Outra possíbilidade representaria os degraus de uma escada mesmo :
c
b
a
Agora vamos ao texto,ele traz um supresa no final, e conciso, permite a multiplicidade de significado "...não se sabe se o sujeito já passou desta pra melhor ou está apenas em um dilema moral mesmo", portanto tem as características de um bom poetrix,
Fabio R.
25C - A lição de que um ser supremo está de prontidão para aprovar quem deve ir para o Céu. Poetrix enxuto, livre e polimétrixo, branco. Nem Deus escapou de ser escrito com letra minúscula! Deu o recado enquanto poemeto para ser lido. Não consegui, entanto, impor um ritmo em "abc" para poder declamá-lo. A poesia livre tem essa tal vacância, que antes de '22 era um dos elementos da linguagem poética. Paciência, estamos falando de versos livres ou decadentes. Parabenizo o autor ou a outora pelo poemeto "abc", que está correto e em sintonia com dicas ou recomendações para se ter um bom poetrix.
Oswaldo Martins
25D - Neste poetrix relembro tempos idos de há muito. Tempos em que a maior das travessuras era burlar a severa vigilância do BEDEL nas rústicas instalções da minha escola. Sim, era o Bedel um deus. Um deus desamado, é verdade, mas temido e "respeitado". Nesta relembrança, o título evoca a escola (o abc), enquanto que o primeiro e o segundo versos trazem de volta à minha mente a figura austera do "guarda" em pé no degrau das escadarias, de olho vivo em tudo e todos.Um poetrix imagético, conciso e objetivo. Gostei.
Dreyf
25E - Não é o Deus Onipotente... trata-se de um "deusinho" que fica se achando o último amendoim do pacotinho.... foi assim que entendi esse deus aí, todo em letra minúscula. É um deus que não zela, apenas fica de sentinela, quase querendo que alguém tropece nos degraus da ortografia...
Lili
25F - Domingo próximo encerra-se o prazo para os comentários à Berlinda 25, então vou logo fazer o meu. Bem, eu tenho a desvantagem de saber quem o(a) autor(a), mas vou fazer de conta que não sei. Eu gosto de poetrix herméticos, que exigem algum raciocínio, mas confesso que nesse eu "boiei". Não consegui correlacionar o abc com deus de guarda no degrau. Sim, tem um jogo de sonoridades interessante, mas não consegui captar a mensagem. A única coisa que ficou foi a representação da onisciência divina e ser Ele o Alfa e Ômega, ou seja, todo o abdecedário. Só isso. Não "viajei" na mensagem. Sei quem o(a) autor(a) é um(a) exímio(a) minimalista mas, talvez, dessa vez além de cortar a carne ele(a) tenha serrado os ossos, dissolvido a gordura e chupado o tutano... Vou pagar pra ver a sua resposta.
Goulart
25G - Bom, não sei comentar nem jogo de porrinha, mas vou atrever uma opinião:
Este poetrix é um exemplo de como não se cortar os penduricalhos: artigos, adjetivos, pronomes.... a idéia ficou inteiramente comprometida dando a falsa impressão de falta de conteúdo. O "alongar" um pouco mais um verso, não é nenhuma heresia ao minimalismo! ... deve ser feito, sim!... principalmente quando o autor quer que sua mensagem seja entendida. Quando não, não!... Fazer o quê?.. Há leitores de todo o gosto. Concordo plenamente com a Maial, a respeito do título. (o deus está em letra minuscula... isso eu pesquei) ... Nada a ver porque o miolo não está bem claro. Não sou muito fã de poetrix herméticos, lembra-me os filmes que só os próprios diretores entendem. Eu prefiro os hermetismos pascoais!...
Djalma Filho
25H - Fiquei um pouco zonza na leitura do poetrix. Não encontrei saída, tão pouco entrada.
Já nos 'finalmentes', imaginei esta leitura:
Apesar da educação estar de guarda no degrau mais alto,
Banalidades são feitas,
Cerceando a liberdade um deus(?) ausente. {deus = poder}]
Foi a minha viagem.
Regina Lyra
25I - Eu tb acredito que tenha "boiado". Logo que olhei, não vi relação entre o título e o terceto. Porém, lendo-o com mais calma, imaginei o "abc" como sendo a educação, a instrução, o professor, uma classe cada vez mais espremida entre o que faz e o que deveria fazer, limitado por circunstâncias diversas, independente de sua vontade, e que tem em deus o único guardião para amparar sua "queda". Depois lembrei da morte recente de Michael Jackson, e que "abc" foi um grande sucesso enquanto ele era apenas criança, quando seu pai, adulto, o cerceava, para que ensaiasse em todo seu tempo livre. Me pareceu estranho, mas cheguei a pensar nisso. Aí, não sei se "viajei", fiz uma leitura em que o "abc" poderia ser o ABC metalúrgico, de Lula, ontem um peão, hoje um "deus" (ironicamente, claro). No mais, concordo com GG de que está muito hermético, que tem um jogo de sonoridades interessante, mas que não "prende". Vamos ver o que ainda vem por aí...
Lílian Maial
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COMENTÁRIOS DO AUTOR:
Há três coisas que não vale a pena discutir, pois no fim todos continuamos com a opinião que já tínhamos: religião, política e futebol. Por estar interessado em experimentar nestas áreas, posteei esta semana sobre religião – “abc”, política - “A demissão do ministro” e futebol - o poetrix “Real”, que faz sentido em Madrid e mais em Barcelona. Não sou amante de poetrix hermético e não me atrai escrevê-los. Sou demasiado impaciente e um poetrix tem de tocar-me logo ou então nem tenho tenho interesse em encontrar segundos sentidos. Como o Deja, prefiro os hermetismos pascoais. Por vários comentários, vejo que não foi difícil compreender o sentido básico do título ‘abc’ – aquilo que nos foi ensinado em criança ou na escola. O que dificultou mais a interpretação do poetrix foi a interpretação da palavra ‘deus’. A que deus se refere “abc”? Aquele que uns dizem que tudo criou, o que outros garantem que não existe ou aquele que existe na nossa cabeça desde crianças, ensinado em casa ou nas escolas, aquele que inventamos à nossa semelhança, colocamos lá bem alto, para nos julgar, como nos julgamos uns aos outros, não só enquanto estamos vivos, mas até depois de morrermos… aterrador. Influenciado pelo princípio da incerteza de Heisenberg, eu estava mais interessado na resposta dos comentadores a esta pergunta que às críticas objectivas ao poetix. “abc” ensinou-me como é difícil abordar estes temas em que temos opiniões inabaláveis e onde é mais difícil partir para outras leituras.
Obrigado a todos que comentaram, Israel, Fábio, Oswaldo, Dreyf, Lili, Goulart, Djalma, Regina e Lílian. Fábio viu as letras a,b,s como uma escada para o céu, o que me fez recordar Led Zeppelin. Dreyf viu o Bedel da sua escola primária. Lili viu um “deusinho que não zela, apenas fica de sentinela” – gostei. Goulart, não tem de pagar porque eu estava fazendo bluff.
~carlos (ksh), de Portugal