HAICAI

Pela excelência do texto que não se limita ao aspecto meramente formal dos haicais, transcrevo o artigo de Candida Papini, encontrado na ASES - Associação dos Escritores de Bragança Paulista - http://www.asesbp.com.br/

Para mim foi de muita utilidade conhecer isso:

"Nessa sofisticada chispa poética, o primeiro verso apresenta uma situação, um quadro visual, uma cena: o segundo mostra uma ação dentro dessa cena e o terceiro verso registra o resultado desse movimento."

À luz desse conteúdo analisei dois dos meus haicais, nos quais por mera intuição, ao que parece atendi a essa condição teórica:

num. 10

na chuva, goteira (QUADRO VISUAL)

hai_cai, cinco sete cinco (UMA AÇÃO, MOVIMENTO)

escreve - o zinco. (RESULTADO DO MOVIMENTO)

num. 12

lua parada. véu... (QUADRO VISUAL)

- de nuvens que voam - águas (UMA AÇÃO, MOVIMENTO)

de um rio de prata. (RESULTADO DO MOVIMENTO)

Marco Bastos

"Vivendo e aprendendo". rs.

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LITERATURA - HAICAI

CONTO E CRÔNICA | PROSA | VERSIFICAÇÃO

H A I C A I S

Os haicais são minúsculos poemas de apenas três versos que somam dezessete sílabas. O primeiro e o terceiro com cinco sílabas e o segundo com sete, na leitura ocidentalizada; o haiku original em ideograma é grafado em uma única coluna vertical.

O haicai é uma das mais populares formas de poesia clássica japonesa, embebido pelo olhar sutil e dinâmico da filosofia zen-budista.

Para se compreender plenamente o pequeno mundo do haicai é preciso olhá-lo não apenas como objeto de linguagem, mas como um processo (indissociável de sua realização formal ) que exige um refinamento de sensibilidade, algo nada fácil de atingir.

Para se chegar a um bom haicai é preciso que o próprio poeta tenha se transformado num instrumento ultra-sensível, por meio de uma longa vivência, algo que estaria mais próximo da sabedoria do que da erudição

Nessa sofisticada chispa poética, o primeiro verso apresenta uma situação, um quadro visual, uma cena: o segundo mostra uma ação dentro dessa cena e o terceiro verso registra o resultado desse movimento.

"Pétala caída".

que torna de novo ao ramo:

- Uma borboleta!" ( Moritakê )

A economia de meios ( o dizer muito com poucas palavras ), o olhar atento à imagem instantânea, que cintila por um breve momento e logo se desfaz, o estado distraído e ao mesmo tempo alerta se exigem dos haijins (como são chamados os haicaistas).

Entre os grandes mestres orientais estão: Bashô ( 1644-1694 ), Issa, Buson, Shiki, Moritakê.

Mesmo que críticos e leitores menos familiarizados com o universo baiku torçam o nariz para a sua aparente simplicidade, o fascínio é comum a grandes artistas do Ocidente, embora, em nossa língua, seja grande a dificuldade em responder à tendência oriental para a condensação dos versos.

Merece relevo Guilherme de Almeida (1890-1969), que consagrou o haicai com um toque especial, dando-lhe rima, e que, rimado, ficou conhecido como "Haicai Guilhermino":

Chão humilde. Então

risco-o a sombra de um vôo.

"Sou céu!" disse o chão.

A temática do haicai oriental é a natureza; no Brasil, os temas são generalizados.

O haicai não é apenas objeto de linguagem, mas uma prática que exige sensibilidade refinada, capaz de extrair poesia dos eventos mais simples do cotidiano, como o canto de morte de uma cigarra:

"A cigarra... Ouvi.

Nada revela em seu canto

que ela vai morrer." (Bashô )

Parece tolo aos olhos dos ocidentais, mas sem essa sutileza de visão, é impossível compreender o verdadeiro fascínio do haicai.

Candida Papini

- ASES -

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:

PEREIRA, Abel B. - Aprenda a fazer versos

Florianópolis/SC: A Figueira, 1992.

ASSUNÇÃO, Ademir – O Estado de São Paulo – Especial -

Domingo-Literatura – São Paulo- 1997.

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