HAICAI (JAPONÊS, HAIKU)
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Estudos Literários
1 – Origem e Forma
• De remota e incerta origem (dizem que foi inventado por um monge budista de nome Socau). Considera-se como seu berço a waka, depois chamado de tanka (poesia curta e elegante). Cultivado por aristocratas e cortesãos, estes, por brincadeira, fragmentavam-no em duas estrofes, de cinco, sete, cinco e sete, sete sílabas japonesas (onji, que significa: sons de símbolos), escrita por duas pessoas, ou seja, uma escrevia a primeira estrofe e outra a segunda, dispostas em ordem original ou invertidas. Com essa nova estrutura passou a ser chamado de tan renga.
• Sob a influência dessa nova estrutura, os poetas passaram a adicionar novas estrofes, que atingiam de quando em quando a casa das cem sílabas, passando a ser chamado simplesmente de renga, isto é, poemas cômicos de versos em cadeia.
• No século XVII o grande mestre de renga Matsuo Basho (1644-1694), chamou de hokku a estrofe de três linhas que iniciava a renga e de haikai as demais estrofes. Com Matsuo, o haicai ganha a definição, a grandeza e a solenidade que o distinguem até hoje.
• O haicai, como se vê hoje, é um tipo de poema caracterizado pela brevidade, destituído de rima no esquema original, composto em 17 sílabas, divididas em três versos de cinco, sete e cinco sílabas. O haicai pressupõe a leitura silenciosa, visual e mental a um só tempo. Chegou ao Brasil no início do século XX e hoje conta com muitos praticantes e estudiosos brasileiros.
• No transplante do haicai para a nossa literatura, algumas das regras originais são seguidas com maior ou menor fidelidade, enquanto outras são até mesmo ignoradas, se moldando ao gosto do praticante.
2 - Conteúdo
• Semelhante pela forma à Epigrama, o haicai deve concentrar em reduzido espaço um pensamento poético e/ou filosófico, geralmente inspirado nas mudanças que o ciclo das estações provoca na natureza. A menção à natureza é feita através de um “termo da estação”, mais conhecido pela palavra japonesa kigo (palavra ou expressão associada a uma entidade natural) que indica quando foi escrito, por exemplo, nesse haicai de Paulo Leminski:
primeiro frio do ano
fui feliz
se não me engano
• Nesse haicai temos como kigo, ou seja, termo de estação, a palavra «frio», indicando o inverno.
• O haicai pressupõe a leitura silenciosa, visual e mental a uma só tempo, de modo que se fundam a carga semântica e a massa sonora, a percepção e o significado. Desse modo, seres e mundos normalmente afastados de repente se aproximam, sem qualquer nexo de causalidade, sem nenhum apelo ao intelecto ou à moralidade.
• Desprovido da carga simbólica o haicai anseia por atingir o máximo de simplicidade e o mínimo de descrição. Rejeita os temas ligados à guerra, animais ferozes, pestes, cataclismos, enfim, tudo o que semelha atentar contra a vida humana. Por outro lado, as dezessete sílabas parecem equivaler a uma emissão de fôlego, emanação da própria alma, ou atestam no jogo cinco, sete, cinco, os três movimentos da existência humana: ascensão, apogeu-decadência. Vejamos, numa tradução livre, um exemplo de haicai, composto por Matsuo Basho:
Noite de primavera:
As cerejas! Para elas
A aurora despontou!
• Na Literatura Brasileira o haicai tem sido cultivado por uma série de poetas, dentre os quais merece relevo Guilherme de Almeida. Todavia, os tem feito rimando os versos extremos:
Lava, escorre, agita
A areia. E enfim, na bateia,
Fica uma pepita.
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Ajudaram na elaboração deste glossário:
Alfredo Bosi - História Concisa da Literatura.
Assis Brasil – Vocabulário Técnico de Literatura
Massaud Moisés - A Criação Poética.
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