Sobre o berço do Haikai
Um Haikai não se trata apenas de simetrias.
Quando nos deparamos com o "tradicional" criado por Bashô, muitos de nós, ocidentais, não temos ciência da escrita japonesa, o que não é condenável, visto que se trata de um idioma extremamente diferente do nosso, além de letras, a escrita é grandiosa, os kanjis são inspirados completamente na natureza, seja ela viva ou morta.
As sílabas encontradas em palavras nipônicas são suscetíveis a regra tradicional, o que nem sempre é possível em outros idiomas.
Assim como em tudo o que é ligado ao oriente, os Haikais possuem muito mais do que palavras e frases com 5, 7, 5 -números já conhecidos de sílabas e versos - eles trazem consigo a essência e pureza.
Tive oportunidade de conhecer o Japão e apreciar a beleza do país, bem como convivi com ritmo de vida que sem dúvida nada tem de semelhante ao Brasil ou países latinos.
Cabe saber inclusive, que o tradicionalismo é existente em todo o cotidiano no Japão, são regrados exasperadamente.
A vida em sí, seja em fábricas, escritórios, lojas de conveniência, de departamento, momentos de lazer, parques de diversão, é frio, mecânico, tolhido, contido, se colocado em poesia, seria como no haikai, simétrico, com emoções querendo saltar, mas contidos ainda assim.
O haikai fotografa, literalmente, o momento vivenciado ou guardado na memória.
No Brasil, bem como em Portugal e Estados Unidos, surgiram "afluentes" (já que nos referimos a natureza), alguns autores já anunciados nas postagens existentes, Mestra Débora Novaes de Castro e o também já comentado Guilherme de Almeida, entre outros não menos polêmicos.
O que interessa, entretanto, é salientar deixando nítido um ponto importante da escrita de um haikai, sua origem.
A origem de um haikai é sua essência, desde o país em que o autor tenha nascido ou se inspire.
O Brasil é rico culturalmente, é miscigenação de tradições, de cores, raças, culturas, literatura, gastronomia e uma imensidão de influências européias, orientais e latinas.
Tudo no Brasil é moldado e aprimorado, temos essa liberdade, e isso é o que há de mais sublime em nossa poesia.
Nesse momento referimo-nos aos haikais, bem como poderíamos falar sobre Sonetos, de qualquer maneira, o que primeiramente devemos levar em consideração não é o berço da criação "primogênita" e sim, o berço da origem do recém nascido texto, seja haikai ou soneto.
É fato que viver, sentir e conhecer as raízes, não falo de "Teorias Literárias" ou "pesquisas em enciclopédias", falo do se pisar, cheirar, respirar o berço, a criação e o nascimento.
Não temos como criticar "o que" ou a "quem" nada sabemos a respeito, é exposição ao ridículo, é um risco infundado e desnecessário.
Sinceramente, o poeta apreciador da composição de haikais, fiél - inclusive a tradição - deve sentir na alma e aprimorar nas letras, é o belo, o zen e a sabedoria em poucas letras, e acima de tudo e qualquer outra coisa, apreciar o que há de mais lindo sem levar adiante o que não lhe tenha sido bonito aos olhos.