Entre o ator e o cenário

Tudo começa (-Hunf! Parece até uma grande história...) com um material meu que venho a selecionar para um concurso de hai-kais lá no Japão.

O engraçado aí é que dos 55 filhos, que ansiosamente já recrutava, hei-de excluir 50 apenas(...), vejam só: Que praticidade a do povo japonês!

Quanto a mim, só engrandece o desafio!!

Agora, o que fiz? Simplifiquei ao máximo a pontuação, extraditei títulos (já de fato não tão necessários à minha cartola) e quase todos os parênte(si)s possíveis, substituí os dois pontos (em mim tão constantes) pelo travessão (característica do kirê), torci pescoços ...e pelo Botafogo, fiz o Diabo ...e ainda quase fui-me ao harakiri!

Pois bem, para um concurso como este, o que mais pesa é, não sabia por que razão, o hai-kai (o Homem interagindo com a Natureza) e não o senryû (o Homem interagindo com Ele próprio).

Aliás, o senryû, pelo que me sopraram, tem geralmente veio cômico, frugal..., lembrando, por conseguinte, até mesmo o tanká, tão antigo!

Daí, entre a Natureza (tão sóbria e concisa) e o Homem (por muitas vezes cambaleante), prefere-se no Japão à Natureza. Pois é mais confiável! E é deste ponto que almejo partir, porque dos meus 5, ditos senryûs, um (em particular) me chamou por demais à atenção – Este aqui:

Eu me visitando -

Uma borboleta azul

Por sobre meu túmulo.

Bem, agora, você aí do outro lado se pergunta: "Oxe, por quê?", se nordestino, e "Pô, meu... por que aí?!", se paulista! E é verdade. Pois que terá de tão novo este poema? Nada, para ser franco! Porééém, se aqui fizermos uma aparentemente insignificante inversãozinha...:

Por sobre meu túmulo,

Uma borboleta azul -

Eu me visitando.

Muda muita coisa? Hm... Sim? Não? Pela perspectiva das curvas (a que já fiz, certa vez, tímida referência), muda, sim!

Então, se sacudirmos o poema, veremos: O primeiro inicia-se de um modo abstrato ...diria, até surreal; depois (primeira curva), a inusitada imagem de uma borboleta azul, aumentando, com isto, ainda mais a abstração; mas logo em seguida (segunda), a tão esperada conclusão: Um túmulo, que é definitivamente o fim de todo o mistério.

O segundo verso tem vôo ou início mais concreto (Pois parte ele de uma imagem, comum até, onde pousaria ou não uma borboleta – Uma fotografia insinuante, é claro!) e pouso ou final, por fim, metafórico (Visita-se o Homem, já n'outra vida ou não!).

Agora, até onde vão as características que determinam ser no caso o pouco falado senryû e as que determinam o tão famoso hai-kai?

Se a Natureza é apenas mero pano de fundo, é senryû e se não, é hai-kai?! Sem piadinhas, o questionamento chega-me a inquietar – Há muitos concursos lá no Japão e não quero visitar-me assim tão brevemente!

a 23-10-06