SENRYU - o primo do Haikai


Se você já sabe o que é um Haikai (Haiku, Haicai), será bem mais simples entender o que é um SENRYU (alguns escrevem Senryú, com acento). Há relações de parentesco histórico e literário entre eles.

O SENRYU nada mais é do que um Haikai (três versos de 5-7-5, sem rigor absoluto), também sem título e sem rima, mas que em linguagem geralmente coloquial, de conteúdo cômico, humorístico, irônico ou satírico, conceitual ou filófico, de forma epigramática, trata principalmente do cotidiano da vida, dos sentimentos, hábitos, atos e vicissitudes do homem e da sociedade.

O SENRYU, ao contrário do Haikai, não exige um "kigo" (embora possa contê-lo), ou seja, uma palavra ou termo relacionado a uma estação do ano ou fenômeno sazonal.

Veja este Senryu, de autor desconhecido:

Ah, homem moderno
Fica poluindo a água
Depois vai comprar

ou este, de Rafael Noris:

Sorriso maroto -
Um rapaz observa as flores
na saia da mulher.

ou este, de Lyad de Almeida: 

Grávida a mulher
solteira. Matará o filho
ou o preconceito? 

ou este, então, de Raul Pough:

lareira nova;
alguém procura na agenda
pelo disque-lenha

ou ainda este, de Alvaro Posselt:

nem flor nem espinho
tinha um haikai
no meio do caminho

Nem sempre é fácil distingüir um SENRYU de um Haikai. No quarto poema, por exemplo, "lareira" lembra um "kigo" de inverno, levando o leitor a imaginar-se diante de um haikai, mas trata-se de mera coincidência, pois o autor fala do cotidiano do homem atual, urbano, dependente das "modernidades do mundo". Portanto, um SENRYU.

Reparem, entretanto, no conteúdo cômico, humorístico, irônico, satírico, fisolófico, destes quatro pequenos poemas, que fazem a essência do SENRYU. Há quem diga que o SENRYU é um terceto à moda ocidental.