Quadr(ilh)as(?)
Após (re)ler “Os meus haicais” do Senhor Guilherme de Almeida e coser melhor a relação que há entre o 5-7-5 lá do Oriente e as redondilhas menor (5) e maior (7) cá do Ocidente, chego a alegar, na qualidade vil de mau discípulo, a pronta criação de um espécie de quadra:
Previsibilidade
Deus meu, não saia:
Que fazer? Não curto
Cabelinho curto
De saia!
É, na verdade, para começar, um rudimento – A forma, e uma troça, um mero jogo de palavras ou um bofete (– Como direi?!) em mim mesmo – O poema.
Antes, porém, devemos ir à fórmula de meu querido sensei: A primeira linha rima com a terceira, e possui rima interna a segunda: “Eu ponho a isca de um sonho...”.
E eu, buscando a minha síntese, que mais ou menos centra-se na asa pousada de um kigô, pensei: “Por que (– Se bem que... nem havia lembrado a passagem em que o homem dizia: '...processo esse que cria um verso também de 5 sílabas pela subtração de 2...'!): não?!”, e serrei timidamente os grilhões:
“Trama
Direciono
Tais folhas em branco
A um sopro que arranco
Do Outono!
Platonismo
Quem dera Deus
Fosse o Inverno infindo,
Mas vem-me, ó bem, vindo:
Primavera!
São Luís
Lindas férias, mar...
Bom, é 'adeus', então.
Fim das férias ...já:
Verão!
Canindé
Não sei se hiberno...
Como, se troveja?
Cânticos da Igreja
E Inverno!”
Ora, se há hai-kais de apenas duas linhas...
Mas tenho para mim que o desdobramento que fiz não iria satisfazer [– Se bem que, em Literatura(?!), já escrevi para agradar às mocinhas, mas hoje ...nem a mim! Escrevo porque é uma forma de respirar, às vezes menos ou mais ofegante!!] de todo ao mestre: “Pois se se tratar de uma oxítona, “Verão”, “então”, teremos daí, a continha exata, sugerida pelo autor de “Infância”; mas se contarmos das paroxítonas (– São um tanto quanto raras as que vão além.): “E In/ver/no.”/ “Não/ sei/ se hi/ber/no...”, ou, n'outros casos tantos, em que apenas separei, crudelíssimo, os entes mais próximos:
“Minha dona, aflita:
Flutua
Nossa palafita...
Mas junto à lua!
No Amazonas
[Minha dona, aflita:
Flutua (mas junto à lua)
Nossa palafita...]
Cartas
Como é difícil:
Em uma garrafa,
Alguém desabafa
Seu vício!
[Alguém desabafa
Seu vício (Como é difícil:)
Em uma garrafa!]
Uma confissão
Meu Deus, eu tinha
Sonhos vis, profanos...
Já em minha
Li(r)a dos Quinze Anos!
[Sonhos vis, profanos...
Eu tinha, meu Deus, já em minha
Li(r)a dos Quinze Anos!]
Se ela se aproxima,
Bem consternado,
Deixo um pouco a Rima
De lado.
A libélula
(Deixo um pouco a Rima
De lado, bem consternado:
Se ela se aproxima.)
Dois pés
Sem ti, à parede,
Eu logo me canso:
Um triste balanço
De rede!
(Eu logo me canso
De rede! Sem ti, à parede:
Um triste balanço!)
Sem sombra nem sol,
Cem dias se vão
Num só:
Com a Solidão.
...ou não!
(Cem dias se vão
Num só, sem sombra nem sol:
Com a Solidão.)
Nem de malas prontas
Estou,
Mas dê minhas contas,
Monsieur Rosseau!
(Me)u bom selvagem
(Nem de malas prontas
Estou, Monsieur Rosseau,
Mas dê minhas contas!)
Sábia interrupção
– Só tu, além da Morte,
Poeta...
– ...Respira(s) tão forte! –
A Vida completa!!
[– Só tu, além da Morte,
Poeta... (A Vida completa:)
– ...Respira(s) tão forte!]”
Bom, d'entre eles todos, embora aparentemente besta, o mais interessante, sem dúvida, é o caso do último hai-kai, para ou a “la(?!) Álvares de Azevedo”. Por quê? Vejamos:
“– Só/ tu, a/lém/ da/ Mor/te,
Po/e/ta...
– ...Res/pi/ra(s)/ tão/ for/te! –
A/ Vi/da/ com/ple/ta!!”
No heptassílabo, não se vê uma só oxítona! Porém, o “a” de “Poeta” (vogal) chama o “a” de “Vida” (artigo).
Muy bien, mas e se acaso fosse, em vez de “A Vida”, “O Mundo”?! O som final, como ficaria? Partindo-se da premissa de que as vogais se chamam, claro, sob as ordens da Senhora Métrica...
É, deixo para o próximo episódio! ...Isto é, se não se adiantar, pois, um crítico, decerto cunhado ou parente meu, ou então, se a mim consentir que o faça o meu pobre e entediado ser – E fim (por enquanto...).
a 16-11-06