AS FORMAS DO HAIKAI
 

De maneira geral, haicai é um poema conciso, formado de três versos, no total de 17 sílabas:
 

O primeiro verso tem 5 sílabas
O segundo verso tem 7 sílabas
O terceiro verso tem 5 sílabas
Não há título.


QUANTO À MÉTRICA

Acreditamos que não se deve exigir rigor na contagem de sílabas, a ponto de sacrificar a expressão poética. Porém, também acreditamos que o número ideal de sílabas deve estar próximo a 17, sendo permitidas variações para cima ou para baixo.

O HAICAI É UM EXERCÍCIO DE CONCISÃO E SOBRIEDADE

Não é porque você gosta de escrever poemas curtos que eles devem se enquadrar obrigatoriamente no esquema do haicai. Se as 17 sílabas do haicai não são suficientes para a sua expressão, não tenha medo de assumir: "eu não escrevo haicai".


COMO CONTAR SÍLABAS

A contagem de sílabas deve obedecer à tradição métrica portuguesa. Isto significa contar apenas até a sílaba tônica da última palavra do verso. Além disso, através do processo de elisão, fundem-se as vogais de sílabas vizinhas, de acordo com a pronúncia.
 

Exemplo 1

Raios de luar:
Bolhas nas águas do lago
saltam rãs e sapos.

Fanny Dupré
 
Neste poema verificamos a seguinte metrificação:
 
 

RAI-OS-DE-LU-AR:
 1   2  3  4  5  •
LUAR é palavra oxítona: a última sílaba é pronunciada mais fortemente e por isso é a tônica. Logo, contam-se cinco sílabas.
 

BO-LHAS-NAS-Á-GUAS-DO-LA-go
 1   2   3  4   5   6  7 •


LAGO é palavra paroxítona: a sílaba LA é a mais forte, e por isso é a tônica. Logo, contam-se sete sílabas.
 

SAL-TAM-RÃS-E-SA-pos.
 1   2   3  4  5  •


SAPOS é palavra paroxítona: a sílaba SA é a mais forte, e por isso é a tônica. Logo, contam-se cinco sílabas.
 
 

Exemplo 2

Nesta catedral,
quando arde o sol, toda tarde,
sangra este vitral

Jorge Fonseca Júnior
 
 
Eis a metrificação:
 
 

NES-TA-CA-TE-DRAL,
 1   2  3  4   5 •


CATEDRAL é uma palavra oxítona: a última sílaba é a mais forte. Logo, contam-se cinco sílabas.
 

QUAN-DOAR-DEO-SOL,-TO-DA-TAR-de,
  1    2   3   4    5  6  7 •


TARDE é uma palavra paroxítona: a penúltima sílaba é a mais forte. Logo, contam-se sete sílabas.
•Elisão entre as palavras QUANDO e ARDE: as sílabas DO e AR são pronunciadas juntas, fundindo-se em uma única sílaba.
•Elisão entre as palavras ARDE e O: as sílabas DE e O são pronunciadas juntas, fundindo-se em uma única sílaba.
 

SAN-GRAES-TE-VI-TRAL
 1    2    3  4   5 •


VITRAL é uma palavra oxítona: a última sílaba é a mais forte. Logo, contam-se sete sílabas.
•Elisão entre SANGRA e ESTE. As sílabas GRA e ES pronunciam-se juntas, fundindo-se em uma única sílaba.

 

Coloca o professor Franchetti que "o poema se deixa ler como haicai: o gosto da amora está no presente do poema, é sentido pelo poeta enquanto poeta. Essa sensação lembra  outra, que a intensifica e abre espaço para a evocação (algo sentimental para haicai, é  verdade) de um momento de plenitude.”
Mas este haicai no original tem título: Infância.
 “Já com o título Infância, o gosto de amora faz parte do passado, é lembrança de um gosto, evocação mental e não sensação imediata. Temos com o título, o caminho inverso: não é a sensação que evoca ou desencadeia a emoção, mas é o sentimento que recria a sensação como símbolo do bem perdido".


A RELAÇÃO DO TÍTULO COM O TEMA NO HAICAI

Embora algumas pessoas utilizem o tema como título do haicai, devemos observar que título e tema exercem funções diferentes no poema.

O título conduz o leitor a um direcionamento da emoção.

Quanto ao tema, é uma referência temporal do assunto sobre o qual versa o haicai. Em outras palavras, o tema é o próprio termo-de-estação que deve funcionar como eixo do poema.

Por exemplo:

Tema: JACARANDÁ

Jacarandá em flor:
Saudade de minha mãe
que gostava de roxo.

H. Masuda Goga
 

Vejamos agora um poema com título:

SAUDADE

Ah! Triste lembrança:
Saudade de minha mãe
que gostava de roxo.

No primeiro caso, o termo JACARANDÁ é, não só o tema, mas a própria identidade do poema. É este termo, o disparador da emoção - vendo a flor roxa, o autor lembra com saudades de sua mãe que gostava dessa cor.

O assunto do poema é o jacarandá. Percebemos então que no poema não há espaço para outra cor, que não a roxa. É pois, a flor roxa do jacarandá o eixo do poema ou a identidade do haicai.

No segundo caso, a cor roxa pode ser substituída por qualquer outra cor associada a uma lembrança saudosa. E nesse caso, a cor roxa associada ao kigo, perde a função de eixo do poema - passa a ser apenas um "enfeite poético". E perdendo essa identidade, deixa de ser um haicai. Temos então um texto poético recheado de sentimentalismo vazio.


 


Fonte de Pesquisa: http://www.kakinet.com/caqui/