O QUE É... HAIKAI (ou HAICAI) ? COM UM CADINHO DE MINAS!!!

O QUE É... HAIKAI (ou HAICAI) ?

Haicai é um poema de origem japonesa, que chegou ao Brasil no início do século 20 e hoje conta com muitos praticantes e estudiosos brasileiros. No Japão, e na maioria dos países do mundo, é conhecido como haiku.

Segundo Harold G. Henderson, em Haiku in English, o haicai clássico japonês obedece a quatro regras:

* Consiste em 17 sílabas japonesas, divididas em três versos de 5, 7 e 5 sílabas

* Contém alguma referência à natureza (diferente da natureza humana)

* Refere-se a um evento particular (ou seja, não é uma generalização)

* Apresenta tal evento como "acontecendo agora", e não no passado.

No transplante do haicai para outros países, algumas das regras anteriores são seguidas com maior ou menor fidelidade, enquanto outras podem ser mesmo ignoradas, dependendo de cada poeta ou da escola seguida. Nestas páginas, tentaremos definir o haicai escrito em português, especialmente a partir do ponto de vista do Grêmio Haicai Ipê, grupo que se reúne desde 1987 para estudar e praticar esta forma poética.

A RELAÇÃO DO TÍTULO

COM O TEMA NO HAICAI

Embora algumas pessoas utilizem o tema como título do haicai, devemos observar que título e tema exercem funções diferentes no poema.

O título conduz o leitor a um direcionamento da emoção.

Quanto ao tema, é uma referência temporal do assunto sobre o qual versa o haicai. Em outras palavras, o tema é o próprio termo-de-estação que deve funcionar como eixo do poema.

Por exemplo:

Tema: JACARANDÁ

Jacarandá em flor:

Saudade de minha mãe

que gostava de roxo.

H. Masuda Goga

Vejamos agora um poema com título:

SAUDADE

Ah! Triste lembrança:

Saudade de minha mãe

que gostava de roxo.

No primeiro caso, o termo JACARANDÁ é, não só o tema, mas a própria identidade do poema. É este termo, o disparador da emoção - vendo a flor roxa, o autor lembra com saudades de sua mãe que gostava dessa cor.

O assunto do poema é o jacarandá. Percebemos então que no poema não há espaço para outra cor, que não a roxa. É pois, a flor roxa do jacarandá o eixo do poema ou a identidade do haicai.

No segundo caso, a cor roxa pode ser substituída por qualquer outra cor associada a uma lembrança saudosa. E nesse caso, a cor roxa associada ao kigo, perde a função de eixo do poema - passa a ser apenas um "enfeite poético". E perdendo essa identidade, deixa de ser um haicai. Temos então um texto poético recheado de sentimentalismo vazio.

Poesias da Natureza

O haicai sempre nasce de uma cena ou objeto natural. Mesmo nos instantes em que cita assuntos humanos, isto se dá através de uma grande reviravolta filosófica, em que o homem não é mais considerado o centro do universo, ou uma entidade separada da natureza, como é habitualmente colocado pela cultura ocidental.

Em verdade, o homem é parte integrante da natureza, submisso a ela, e assim passível de se transformar em assunto de haicai. É assim que pensa o haicaísta (poeta de haicai).

Tradicionalmente, a menção à natureza é feita através de um termo- de- estação, mais conhecido pela palavra japonesa kigo. Pode-se questionar a validade das quatro estações no Brasil, mas é inegável a existência de um ciclo anual, ao qual os vegetais e os animais se moldam, e dentro do qual o homem organiza suas atividades, mesmo que este ciclo não possa ser caracterizado como uma sucessão de quatro estações à maneira européia. Entendido de uma maneira ampla, o kigo é a palavra ou expressão associada a uma entidade natural, capaz de disparar associações afetivas a partir de uma cena concreta, de maneira muito econômica.

Por outro lado, a idéia de estação está profundamente plantada entre os brasileiros de todas as latitudes, como herdeiros da cultura ocidental, basicamente européia e de clima temperado. Como parte desta herança, reconhecemos o caráter simbólico tradicionalmente atribuído a cada estação:

* Primavera: alegria, renovação, amor, flores, juventude;

* Verão: vivacidade, liberdade, calor, maturidade;

* Outono: melancolia, decadência, nostalgia, colheita, senectude;

* Inverno: tranqüilidade, reclusão, morte, repouso, frio.

Poesia do Presente

O haicai sempre exprime um momento vivenciado no presente. Sendo baseado na natureza, obrigatoriamente fala de coisas concretas, com existência física. E ao falar do presente através de coisas concretas, necessariamente alude à temporalidade, ao provisório e ao efêmero, marcas do mundo terreno. Em outras palavras, o haicai é um veículo para a expressão da transitoriedade, e esta é evidenciada através do uso dos termos-de-estação ou kigos. Signos de um mundo em constante mutação, os kigos se sucedem ao longo do ciclo anual, representando a própria imagem da transitoriedade.

Ao exprimir um momento do presente, baseado na realidade física, o haicai se aproxima da fotografia. Sempre que olhamos para uma foto, aquela impressão visual se reaviva e se torna presente para nós. O haicai faz o mesmo, através da descrição objetiva de uma sensação física, que além de visual, pode ser também auditiva, tátil , olfativa ou de paladar. Esta sensação pode disparar uma lembrança ou um sentimento, o que pode ser expresso no poema. O contrário não é permitido. A sensação psicológica sempre nasce depois da sensação física.

Dizemos que o haicai pode ser comparado a uma fotografia, que é completamente diferente de um filme. O minúsculo tamanho do haicai não comporta cenários dramáticos, amplos movimentos ou planos em seqüência. Também não se trata de suprimir todos os elementos sintáticos como num telegrama, visando comprimir o máximo de palavras dentro de 17 sílabas. A descrição simples e sem artifícios estilísticos de uma sensação, deixando grande espaço para a sugestão, é a regra a ser seguida.

Não ao Ego

Negar o ego não significa proibir a palavra "eu". Haicais na primeira pessoa são perfeitamente viáveis. Mas a objetividade do haicai deixa pouco espaço para a expressão do universo interior do autor.

O subjetivismo e sua derivação, o sentimentalismo, são praticamente condenados, junto com qualquer traço de intelectualismo. Os sentimentos humanos, quer sejam os do autor ou não, são expressos com parcimônia, sempre submetidos à sensação física que os gerou, e aparecem puros, livres de elaboração racional e conceituação intelectual.

O haicai não se presta para expressar um raciocínio, do tipo A+B=C. É mais freqüente que contraste dois elementos sem conexão lógica, cabendo ao leitor reconciliá-los em um novo plano de significado (o que não quer dizer que o haicai seja uma charada ou adivinha). Tão pouco o haicai serve para expressar juízos ou sentenças. A natureza não trabalha assim, estando acima do bem e do mal, categorias inventadas pelo homem. Por conseqüência, aforismos e lições de moral estão fora da esfera do haicai.

Fonte: Sociedade dos Pássaros Poetas - oRKUT -Chris Hermann –

FORMA

www.haicai.com.br/forma.htm

Forma poética do haicai, três versos: o primeiro, de 5 sílabas; o segundo, 7; o terceiro, 5 (origem oriental); contudo, tendo em vista a silabação diferente nas diversas línguas, pode-se ter um verso mais curto, outro mais longo, outro mais curto. Nas traduções de Bashô, podemos encontrar haicais com dois versos apenas. Os de origem, via européia ou ocidentais, versos de 2 , 3 ou 4 versos. Contudo, prevalece, ou é a forma mais aceita, a estrofe composta por três versos nos quais o poder de síntese, a imagem, o vislumbre são requisitos primordiais.

Pontuação inexiste na forma japonesa; na oriental-brasileira e ocidental-brasileira, é opcional. O Grêmio Ipê de Haicai (oriental-brasileiro), faz uso da pontuação. Guilherme de Almeida e sua escola também pontuam essa micro-poesia.

A rima não acontece na forma oriental; na ocidental, é aceitável como acontece nos haicais guilherminianos (Guilherme de Almeida).

Titulação - Não há titulação no haicai oriental; no ocidental, latino-americano ou brasileiro pode haver ou não.

Pode-se dizer que Ocidente e América Latina oonstruiram a sua síntese poética, aos moldes das origens, mas com um sabor de novidade, "um sabor de amoras/ comida com sol/ a vida chamava-se agora" como no dizer de G.A. em INFÂNCIA.

Esquema do haicai bashoniano (oriental-brasileiro):

5 sílabas _ _ _ _ _

7 sílabas _ _ _ _ _ _ _

5 sílabas _ _ _ _ _

Esquema do haicai moderno (ocidental brasileiro):

silabação livre

14 sílabas _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

5 sílabas _ _ _ _ _

3 sílabas _ _ _

ou outras silabações, conservando-se porém os três versos, sendo dois mais curtos e um mais longo, preferencialmente, os 1ºs e 3ºs mais curtos e os 2ºs (centrais) mais longos.

CONTRIBUIÇÃO DE MINAS GERAIS-- ATRAVÉS DO QUERIDO POETA DAUMON

Bom dia!Olha Minas contribuindo...rsHAIKAI, HAI-KAI, HAI-KU, HAICAI, HAIKU OU HAI-CAI? O haikai(ou haicai ou hai-kai ou hai-ku)surgiu no Japão a partir da tanka(poesia curta e elegante), um poema de duas estrofes, sendo a primeira de três versos com a disposição métrica que o haikai conserva até hoje.No século XVll surge o grande mestre Matsuo Bashô(1644-1694) que deu larga divulgação a essa forma poética.Posteriomente, passou a ser praticada em muitos outros países do mundo, incluindo o Brasil. O haikai apresenta-se ocmo um poena em uma só estrofe de 3 versos: o primeiro e o último com 5 sílabas e do meio(ou segundo) com 7 sílabas, numa formação 5-7-5, somando, ao todo, 17 sílabas poéticas. Entretanto, os autores da pós-modernidade brincam com a seriedade do haikai.Embora continuem prestando culto à natureza, às estações do ano, ao sentimento de transitoriedade, surgem vários poetas, como Paulo Leminsky ou Millôr Fernandes, que se preocupam mais com o senso de humor ou a filosofia.Pode-se falar de brinquedos, de flor, de mar. *créditos: Graça Rios - Escritora, Mestre em Literatura pela UFMG e Consultora de Pesquisa da Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte.

Obrigada menino, valiosa informação, enriqueceu o conteúdo, que não é meu, mas, de uma amiga poeta querida, Chris Hermann , residente na Alemanha.

Bemtevi
Enviado por Bemtevi em 26/07/2009
Reeditado em 26/07/2009
Código do texto: T1719847
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