O "Haikai" de cada um
Antes de mais nada quero frisar que não sou autoridade no assunto, e que estas linhas resumem opiniões pessoais.
Quem já teve oportunidade de ler Issa, Bashô, ou outro mito haikaístico japonês e o comparou ao que Guilherme de Almeida ou Millôr Fernandes chamam de haikais, facilmente notou que algo há de muito diferente.
Em parte é fácil entender o porquê. O haikai foi criado por um povo com uma cultura totalmente diferente da nossa. Muitas coisas que são naturais para eles, são mais difíceis para nós. Não que haja nisso uma limitação ou uma superioridade. Apenas somos diferentes.
Como então querer captar todas as nuances de algo que não estamos preparados para ver?
As regras dos haikais já foram exaustivamente descritas. Guilherme de Almeida, "abrasileirando" o haikai ainda incluiu uma difícil rima "em cruz" (o primeiro verso rimaria com o terceiro, e a início do segundo verso com o seu final). Os haikais de Millôr, rimados mas sem a metrificação 5-7-5 (Coleção L&PM Pocket vol.27), estão mais para senryu e/ou poetrix que propriamente para haikais, e não os estou desmerecendo com isso.
Por outro lado, se tirarmos a rima, a métrica e a objetividade do poema, o que garante que ele continue a ser uma poesia e não seja classificado como simples prosa?
Em meio a todas essas dificuldades, tenho atualmente a certeza de que muitos haikais que escrevi não passam de tercetos...
Um pássaro arisco
Entoa seu canto à toa
De um ramo de hibisco
Particularmente gosto da rima na poesia, mas em uma peça como o haikai, tão pequena e que pretende dizer tanto, a rima às vezes é limitante ou parece forçada.
Sobre o assunto, gostaria de sugerir entre outros o site do Grêmio Sumaúma (http://www.sumauma.net/index.html) e o periódico "Seleções em Folha" do amigo Manoel F Menendez (mfmenendez@ig.com.br). Ambos têm me aturado há algum tempo.
Brisa faz girar
Cata-ventos na varanda.
Fixos os olhinhos