3X4

A uma boa coletânea de hai-kais, a ess(t)a e a qualquer outra, no Japão ou no Camboja, é preciso o quê? Certidão de nascimento, perfil profissional, comprovante de residência?

Não. O que basta apenas é ter o espírito hai-kai.

Ter o espírito hai-kai... Mas o que vem a ser?! Além da contemplação; da fotografia e do já queimado filme das limitações, é prosear com os olhos, tragando luar, estrelas, sol, em todos os sentidos, olhos fechados ou não; é reconhecer o bojo das palavras, e, sendo assim, dançar com elas; é chegar ao amor, que chove por cima do Expressionismo até; é (em casa, faculdade ou cárcere) geralmente estar preso a uma janela ou postigo; é também, que nem algumas aves, fazer a migração (uns, a correr do Inverno, e outros, quem sabe até, para ele); é, muito mais que t(e)c(e)r lendas ou rendas, rengas ...e um dia, publicar um livro só deles; é às vezes fazer de um (péssimo) hai-kai ou de um senryû (de amor) um origame; é não preparar o tatame e vestir o quimono para discutir hai-kai; é perceber, de uma vez, que estamos em uma época de globalização e que, apesar da distância, há um ideal que nos une e que nos permite escrever, ora, mas... "hai-kai", ou "hai-ku" e "haicai", portanto (*para os + econômicos); é também ver, n'algum dia claro e azul, um mendigo na calçada, e escrever (por que não?); é, como já escrevi aqui, mas muito menos detalhado, seguir além dos kigôs e das estações do ano, e deitar ao som de Vivaldi (ou não) e acordar ao d'El Níño; é prudentemente (cá entre nós, amigos:) não iludir-se que a Poesia (d)e(ve) (ser) linda; que o Brazil é nosso [– Epa! Iss(t)o é Política!!] e que saco vazio não pára na fila do banco ou do hospital; é reconhecer em Leminski, por exemplo, ou n'algum pardal um mestre; é pincelar rima ou não; é colocar título ou não; é metrificar ou não, porém sabendo que o hai-kai não é apenas um poema curtinho, talhado (parece até) para um torpedo e/ou cartão de visitas... porque se convencionou dizer que um poema (secretamente) inacabado é hai-kai; porque se convencionou dizer que um terceto shakespeariano é também, e não é bem por a(qu)i. Muito embora, a mim, chegue até a ser inoportuno gerar e lamber um trecho como este!

Pois o que dir-se-á das minhas quadras?

É, mas o que faço (rindo) comigo tem (guilherminiana) justificativa, laudo pericial (quase) e atestado médico (familiar)...

E por falar-se em "gerar e lamber", tine, tine em mim o zen, apesar ou por causa, enfim, do que já escrevi:

Renga

Um rio que nem vi,

Pedi a um bom rapaz que ali

Me fotografasse!

Bem, e é saber/ sentir a profundidade que tem uma gota.

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É, mas devo ter esquecido alguma coisa!

a 31-07-07