O CHATO DE GALOCHAS

Não tenho nada contra quem é chato de berço. Ele não é antipático por opção,a asua chatice não incomoda ninguém. Quem eu não suporto é o chato de galochas, que é um antipático pernicioso, capz de infenizar a vida de qualquer um.

Qual a principal característica dele? Só transmite bobbagem, mentira, presunção. É o profeta da antipatia, o apóstolo da chateação, o imperador da cafonice, o imperialista da imbecilidade e o lartifundiário do autoelogio. Por mais que se esforce - alguns chegam a treinar na frente do espelho - não consegue, com suas piadas medíocres, arrancar das pessoas uma mísera risada.

O chato de gaochas é presença obrigatória em qualquer reunião, está em todas, não dá folga, é sempre o mais amostrado, gruda nas pessoas que nem carrapato. É aquele que procura sempre ser o refinado de mentirinha, o sofisticado de marré-marré, o 29 de fevereiro, é o maior baixo astral da paróquia. As suas coisas são sempre melhores do que as dos outros. Seus filhos, tá na cara, não são crianças normais, são gênios dotados de um QI elevadíssimo.

Ele se acha irresistível, charmoso, elegante, bonito; diz que não há mulher que escape ao seu assédio (só que as coisas acontecem de forma mmuito diferente...). Ele é tão presunçoso que chega a se considerar o modelo ideal de cidadão, o máximo de virtudes, a perfeição em pessoa. É um oceano de vaidade. As histórias que conta são sempre prolixas e chatérrimas. Ele não erra, corrige os outros. Na rioda de papo que estiver, é quem escolhe os temas. Não deixa ninguém falar e por isso acaba falando sozinho - os demais acabam saindo de fininho.

Não raras vezes, quando essa figura vai chegando ouve-se logo a frase de advertência: "Ih, pessoal, vamos dar no pé que fulano vem ali". Na verdade ele não agrada a ninguém: bota defeito em tudo que é dos outros, só presta o que é seu. Vive eternamente de cara amarrada, zangado, irritado. E como se estivesse de mal com o mundo ou vivesse eternamente chupando limão ou mastigando pimenta malaqueta.

Ele não tem cara, tem careta. Não cai nunca na real, não admite que é um tremendo de um chato e nem procura melhorar, que sabe buscando ajuda de um analista. O chato de galochas rico é sempre pirão na unha, avarento, tem ódio do povão. São ricos por herança e além da riqueza herdaram também a chatice. Esses a gente até compreende. Mas existe também o chato de galocha novo-rico, aquele que foi pobre e conseguiu vencer na vida, arrumou um alto cargo ou um negócio escuso rendoso e está por cima da carne seca. Esse é o fim da picada. Ele apresenta o agravante da falta de personalidade: procura esconder a sua origem humilde, desconhece antigos companheiros, faz de conta que não lembra os parentes pobres. Alguns chegam até a mudar de sotaque e falar imitando os sulistas, e a todo instante metem na conversação uma palavra que nao tem nada a ver com contexto. Conheço um que volta e meia coloca o termo "conotação", sem necessidade, apenas porque acha essa palavra chique. O mais ridículo é quando ele quwer dar uma de grã-fino, de conhecedor emérito da gastronomia, de provador de vinhos finos, de entendedor de boas maneiras, possuidor de educação sofisticada... Aí, por incrível que paeça, ele consegue fazer rir. Porém mais cômico ainda é quando esse traste se enconra com o um colega. É dose pra elefante. É o debate da imbecilidade contra a pressunção, da mentira contra afalta de verdade, da besteira contra a cafonice... Nesses momentos a saída é ligar o som bem alto ou então dar o pira.

Indeppendente de qualquer característica, seja rico, novo-rico ou até pobre, a verdade é que o chato de galochas é, antes de tudo, um merda.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 26/04/2015
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