A ILUSAO DAS PALAVRAS
Sonho os rastos dos teus pés em nossa areia
e afasto-me de mim sem de todo ausentar-me.
Na treva da distância uma treva é que se alceia
e mastigo o último dinar em ouro e carne.
Sob a sede de um sol suarento a tarde nos semeia
e somos hóspedes da esfinge no seu charme.
Vai criando sombras e bruxuleante a noite cheia
amanhecerá bêbeda de areia sem alarme.
A ti, quem quer que foras, e de onde vieras,
eu diria meu soneto de incerto colorido
porque em ti escondo alguém que não me sabe.
Como posso caber eu, de ausências e quimeras,
nesse lago de lástimas que me lanço diluído
se nem tua surda composição de lágrimas me cabe?