2 sonetos frutos de uma libertação matinal

I

Sonhei que em meu colo meu bem dormia

Enquanto eu cantava a canção mais bela

Que se canta para amar (eu cantava pra ela)

E então, a cada respiro seu, em mim eu sentia

Seu sono, tão sereno como o vôo de uma libélula

Me encantava tal como a flor que ela pousaria

E do sumo, a líbido, que eu nem tão cético plantaria

E nasceria a, de todas, mais linda flor amarela

No sonho, eu não via o lugar nem o tempo

E pensei: "nada me importa, assim me contento,

basta meu bem para eu beber da alegria."

Sentia em meu rosto o mais leve vento

Que trazia, de meu sono, o melhor pensamento

E ao acordar, me senti, do amor, o vigia.

--

II

Se adiantasse algum dia eu lhe dizer

O quando meu peito se vê astro que brilha

E que pouco se importa em destruir armadilhas

Eu diria que... eu nunca sei o que fazer.

Se eu soubesse ousar como ousa a filha

Ousa bela, travessa, sem do perigo temer

Se eu soubesse ao menos como lhe dizer

Seria como de dentro, vomitar pouco de agonia.

Se eu conseguisse os prantos cessar

Te ver sorrir, simplesmente, e ir embora

Me contentar com teu sentimento de agora

Eu faria nada, me embaraçaria na demora

De um rosto que ri, e por dentro chora.

Se pudesse, eu perguntaria como é amar!