VERGONHA
Essa vergonha que escorreu pelas paredes,
e nos buracos do reboco se escondeu,
está velada e bem guardada, não a vedes,
foge da luz, só quer sumir, procura o breu.
Se está ferido o meu pudor perante o mundo,
não posso mais crer nas verdades propaladas.
De onde então a crença em algo mais profundo?
A humanidade só escorrega nas escadas,
não sabe usar os seus degraus para subida.
Se não existe um Ideal, algo mais nobre,
terá a palavra nova força e tal que elida
toda a vileza com que ora se recobre?
Se o pejo é grande e não nos traz nenhum perdão
qual o futuro das palavras que virão?