O ESPELHO

Ontem, eu encontrei amigos de outrora.

Amigos, que há muito não via. Rugas...

Comigo mesmo pensei: foi-se a aurora.

O espelho mente e não noto. Me estuga

A pensar que eu também não as tenho.

Que mentira nos prega o espelho. Ora,

Vemo-nos todos os dias... Mas o cenho?

Muda e não se nota. O tempo nos devora.

Eis o nosso mimetismo, na fuga

De nossos medos, que nos apavora.

Mas o tempo a passo de tartaruga

Consome-nos... Não somos imortal.

Caminhamos inexoravelmente

Para velhice. Prelúdio final.

HENRIQUE CÉSAR PINHEIRO

MARÇO/2008