Relâmpago

Na minha vã finalidade humana,

Afeito aos longes como um peregrino,

Ou por meu bem, ou por meu mal, domino

A vaidade, que a mim pouco me engana.

Nunca me aprouve a sedução mundana,

Mais que o clarim me cala fundo o sino;

Deu-me a vida o deserto por destino,

Sem me dar horizonte e caravana.

Faço da minha solidão meu culto.

Sigo, sangrando os pés num chão de abrolhos,

Sem luz, dentro da noite em que me oculto.

Só tu, como um relâmpago violento,

Às vezes, me deténs o passo e os olhos,

Beleza - redenção do sofrimento.