NO VELHO ENGENHO
Ao amigo- poeta MARCOS LOURES
No engenho que fumaça ao ar espalha
cegando de cinza o verde canavial,
o mármore mói, geme, a roda entalha
e dói, talvez expiando culpa d'algum mal.
Raspando, a mó rodeia e range,
expulsa da cana o espumoso mel;
parece que tem alma. adivinha e plange
o mal e a dor que breve será fel.
Pisam no barro bestas lerdas e gentis
e misturam-se bagaços e fermentos
aos cantos matinais dos bem-te-vis.
Ah! Moenda do mel do sol já posto,
álcool pra brindar bolhinhas de tormentos
na taça cristalina refletida de desgosto.