DIÁLOGO COM O VESTIDO
Entrei em nossa casa, tudo estava tão deserto.
Havia poeira cobrindo os móveis e o chão.
O espaço era enorme e em um pranto aberto
clamava por ela o meu desolado coração.
A nossa cama em nosso quarto à direita
sem lençóis, travesseiros ou cobertores
parecia estar ali sempre alerta e à espreita
dos nossos beijos, promessas e rumores...
Em um cabide no quarto havia um vestido,
quem sabe na pressa da partida esquecido,
que parecia perguntar-me: ela foi embora?
Então em estado de completa loucura
tomei o vestido e abraçando com ternura
respondia: não sei onde ela está agora!
Belém, janeiro de 1964