A Louca
A Praça da Sé é o local onde ela habita,
Mísera mendiga acuada no desencanto.
Sinto o meu peito arder ao seu dorido pranto,
Que a populaça escuta, desdém e até evita...
“- É louca, é velha, é pedinte, é maldita!”
Cismam todos, ao vê-la, sem nenhum espanto.
E eu passo e a vejo imponente num sujo manto,
Que a coitada agarra no estertor que lhe agita...
Percebo que ela conversa com o vazio:
Resmunga, aponta, vocifera e enfim implora
Como se visse um monstro que lhe apavora...
E sensitivo escuto estranho vozerio:
“- Rainha assassina!”. Acusam-na, sem perdão,
Almas já mortas que a perseguem em legião!...
Gigio Jr (Poemas da Meia Idade–2006)