A NOITE DA VIDA
Nesse escorregar mágico dos ponteiros
a vida sóbria embebeda-me de noite;
leva-me por ruas empedradas, cheiros
de cerração e luzes brancas-de-leite.
Afundo nos pés poças lisas massacradas
por largos pés numa alpercata roída
por pedras rombudas; garrafas quebradas
de verde viajam o ópio na noite escondida.
A rua escura é um não-sei-quê de outrora
e tua porta passa por mim vazia,
envelhecendo meus olhos de saudade.
Acho que sobreviverei nestes restos, embora
seja só a reminescência mais sombria
dos amores loucos que vivi na mocidade.