*TRILHA ABSC 17 - SONETOS COM O TEMA: PEDRA.*

*FAROL DA ALVORADA*

Mais uma vez, no remanso do verso,

Respiro, exausto, diante da aurora

A contemplar o alvoral do universo

E o seu afago na pedra que chora...

E com as flores do outono converso,

A revolver as ruínas de outrora,

Um pedregulho no topo, perverso,

Que nenhum vento derruba ou escora.

A mesma pedra que chora no outeiro

Saiu do meu coração de guerreiro

E me contempla da margem da estrada...

Mas essa pedra que em versos retrato,

Esfarelou-se depois do contato

Da luz que vem do farol da alvorada.

Ricardo Camacho

*PEDRAS*

Nas pedras há total pluralidade...

No meio do caminho, um empecilho;

se dentro do sapato, a dor invade;

se arremessada, um ótimo gatilho!

Quando esculpida, pura habilidade...

Na construção, maciço e bom ladrilho;

se prende a porta, imensa utilidade;

se está no anel, encanta com seu brilho.

As pedras são lições de enfrentamento

que deixam nossa estrada enriquecida…

(Temperam dor com sonhos que acalento!)

Machucam, se provocam a ferida,

mas brilham, se promovem o sustento.

Bendita seja a pedra, em nossa vida!

Elvira Drummond

*OBSTÁCULOS*

Ah, pedras do caminho, quanta luta

eu tive que empreender ao afastá-las…

Abrindo mão, quiçá, da força bruta,

mas com destreza expressa em tantas falas.

Rochedos ou moledros na disputa,

labor sempre inserido nas escalas;

embates interpostos na conduta

para ascender na vida em novas alas.

Num íngreme percurso, sem carinho,

barrou-me na jornada o amor mesquinho:

– a rocha à qual, rendida, eu me curvei.

E quase ao fim da longa trajetória,

sem o empecilho em minha somatória,

de um coração de pedra eu me livrei!

Lucília A. T. Decarli

*PEDRAS*

Depois de tantas lutas malfadadas,

de aspérrimos penhascos pela vida;

de palmilhar por todas as estradas

a fim de que a missão fosse cumprida...

Depois dessas sandálias desgastadas

num labirinto hostil e sem saída,

e as plantas dos meus pés dilaceradas,

cansado, eu resolvi pedir guarida...

Bem que eu tentei ser firme e resistente

feito o diamante, duro e reluzente,

ser fera que outros bichos não devoram...

Contudo, fortalezas se esmorecem...

Eu descobri que os fortes se enfraquecem...

Eu descobri que pedras também choram!

Edy Soares

*A PEDRA REJEITADA*

Há mais de dois mil anos, num Calvário,

torturaram um homem inocente.

E, mais que torturado, infelizmente,

foi morto por um plano sanguinário.

Apesar do martírio voluntário,

o povo poderia, facilmente,

fazendo a escolha mais corretamente,

ter livrado Jesus deste cenário.

Entretanto, apesar de sua morte,

Jesus se torna cada vez mais forte,

acima de qualquer religião.

É por isso que ousamos declarar

que a pedra que tentaram recusar

tornou-se a pedra mór da construção.

Arlindo Tadeu Hagen

*NA ESTRADA*

Nem tudo em minha vida foram flores:

Atravessei subidas e descidas...

Por uma infinidade de fatores

Vivi experiências doloridas.

Vivenciei, também, alguns horrores,

Mas me curei de todas as feridas

E já não guardo mágoas nem rancores

De quem me fez maldosas investidas.

Segui a trajetória, confiante,

Tentando superar-me a cada instante,

E não me abala agora quase nada.

E deixo claro – estando já no fim –

Que as pedras que jogaram sobre mim,

Usei como ladrilho em minha estrada.

Gilliard Santos

*RITO DE PASSAGEM*

São tantas as travancas encontradas,

De diferentes formas e medidas...

Algumas permanecem esquecidas,

Outras, contudo, são desenterradas.

Trazem consigo o tédio das noitadas

Em que escrever curava-me as feridas

Livrando-me do arroubo, das bebidas,

Que me dopava em muitas madrugadas.

E sejam elas seixos ou rochedos

São empecilhos para os meus enredos

Feito velame em glebas de pastagem

Mesmo erodidas, lembram seu formato...

Tais pedras tolhem meu desiderato

De afirmação em rito de passagem.

José Rodrigues Filho

*A PEDRA E O JUNCO*

A pedra, que resiste à tempestade,

E assiste a sucessivos vendavais,

Despreza a triste sorte dos mortais,

Sentindo-se fadada à eternidade.

O débil junco, em gesto de amizade,

Por forte instinto, junta-se aos iguais.

Enfrenta, com sucesso, riscos tais,

Salvando-se com grande habilidade!

Assim, fincado em sua prepotência,

Jaz orgulhoso e impávido o rochedo,

Que afronta as intempéries sempre só.

E o junco da fraqueza tendo ciência,

Intacto, vence a luta contr vca o medo,

Enquanto a pedra, aos poucos, vira pó.

Fernando Belino

*DENTRE ERVAS RÉGIAS OU DANINHAS*

Fortalecendo a base da estrutura

dos magistrais legados de uma história,

estrela fui, no mar azul da glória,

mesmo que o mundo veja-me tão dura.

Se confundida fui, sem compostura,

nos comumente pântanos da escória,

eu mudo, quase sempre, a trajetória

para embarcar na geração futura.

Mesmo que ancore feito audaz raiz,

abrindo mão de ser a grande atriz,

eu sinto que a existência, ainda, medra,

sem distinguir escravas de rainhas,

nas vestes de ervas régias ou daninhas,

quando vos mostro a força de uma pedra.

Adilson Costa

*SONETO*

Cresci vendo na pedra recortados

De um beija-flor os traços colossais

No lar dos meus avós, que tinha mais

Valor que dez mil reinos encantados.

Nós fomos reis e heróis determinados

Lutando contra monstros irreais

E a ave era o brasão dos ideais

Por nós, primos e irmãos, compartilhados.

Porém o tempo enfrenta tudo e vence...

O avô se foi... A avó já não pertence

Ao reino dessa infância de valor...

E o tempo a nós também há de levar

E um dia, desse reino, há de restar

Na pedra, eternizado, o beija-flor!

Creilton Oliveira

*SEM MEDO*

A cada travessia que completo

o olhar refulge mais porque me ufano

de ter vencido as dores no trajeto

e, nas contendas, ser o soberano.

Embora ainda veja o chão repleto

de pedras e o caminho seja insano,

mantenho obediência ao meu projeto,

sem medo de enfrentar o desengano.

Feridas fazem parte da façanha,

por isto imponho aos males desta lida

a intrepidez que sempre me acompanha.

Em toda cicatriz celebro a saga

de alguém que, da vitória, não duvida

e a chama da esperança nunca apaga...

Jerson Brito