Trilogia Do Cordeiro Nazareno
I – Quinta-feira: O Beijo no Horto
No passo do traidor a sombra avança
com prata no bornal e alma vazia
a noite fecha os olhos da esperança
no Horto o Salvador se curva em prece fria
Os olhos dos discípulos se fecham
Jesus se rende à dor que o céu silencia
e enquanto os passos vis já se apressam
a terra guarda a hora da agonia
Um beijo é o sinal que expõe a face
Pedro reage em vão com sua espada
mas Cristo toca a dor e a paz renasce
E começa a jornada ensanguentada
por entre os homens passa a eterna graça
e o Cordeiro não cede à madrugada
II – Sexta-feira: O Madeiro da Paixão
A cruz se ergue ao céu entre açoites
e o sangue escorre lento sobre a madeira
a multidão se agita entre os açoites
e o riso morre em lágrima verdadeira
O corpo pende manso em abandono
vestido de silêncio e de tristeza
e a mãe que o vê cair se parte em sono
carrega em si do mundo a incerteza
Perdoa-lhes ó Pai que não entendem
o véu se rasga e rompe a longa espera
o Gólgota não cala o que transcendem
E os olhos que o mataram nada ferem
pois nele mora a luz que nunca erra
e o céu se curva à dor que os justos herdem
III – Domingo: A Pedra Removida
Três dias já se foram na promessa
o túmulo guardava o fim dos dias
mas eis que a vida rompe a fria pressa
e a pedra voa ao som das novas vias
As mulheres caminham com temor
e ouvem do anjo a fala que alivia
no seio do sepulcro nasce a flor
o morto já não guarda a dor que havia
E surge o Cristo vivo entre a brisa
com olhos que iluminam corações
e os pés tocando a terra sem divisa
A morte perde o trono e as ilusões
e a vida em luz se dá como notícia
no campo antigo florescem visões
Decimar da Silveira Biagini
Semana Pascal, 2025