Cinderela em carne e osso
Bateu na minha porta, um certo dia,
Uma mulher, magrela e desdentada,
Que dormira descalça na calçada ,
Como pingos de chuva em noite fria.
E me pediu abrigo, e se dizia
Uma pobre coitada Cinderela,
Que perdeu um sapato na favela,
Em que tinha uma nobre freguesia.
Abri-lhe porta e disse: pode entrar!
Procurei um sapato, achei um par,
Que lhe coube nos pés, perfeitamente.
Era um par de sapatos muito antigo,
Que guardava então , aqui comigo,
Pra calçar um amor de antigamente.