Menino de engenho
Para o mestre, José Lins do Rego
Corre, pipa, sombreia a obra
dos braços fortes que jazem vinco
no peito e nas costas da terra suada;
a semente pula da pele, se desdobra.
Os pés, dois; dois braços de enxada;
em cada mão; os dedos, cinco:
o padre, o bispo, a fé, o santo, o pastor
erguem da hóstia, chão; choram do vinho, suor.
Corre, pipa, linha furada; absorto,
passa o dedo sobre o pó na lenda
verde da cana o ano de luz sibilina;
escura no engenho; uma noite, o fogo morto
- gira o quadrado centro da ociosa moenda:
não é nunca fúnebre o vélorio de uma usina.