ASSOMBRO

Fico feliz quando das nuvens nascem

uma ordem outra de seres: modelos

míticos, forjados, nobre linhagem,

como uma escultura entalhada em gelo.

E a sina, precedente à Medusa,

não mais sinaliza este pesadelo,

de tanta imagem borrada, confusa;

é a substância insolúvel do sonho,

onde os olhos recaem, sem recusa,

no corpo mineral do dia. Ponho,

sem furtar-me do trigo da penúria,

nuvens dispersas na febre dos sonhos

— ante o mistério do alto e a sua fúria,

esqueço o rastear na lama espúria.

Lusca Luiz da Silva
Enviado por Lusca Luiz da Silva em 26/03/2025
Código do texto: T8294738
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