MONJOLO
MONJOLO
Grão por grão no batido do pilão,
Enquanto a bica escorre calha afora.
Espigas esfarinham desde a aurora
Para o festim das aves do grotão.
As águas descem fartas no rincão
Sob um gentil dossel de passiflora.
Mas logo o olhar bucólico descora,
Seguindo o vai-e-vem do travessão.
Tanto o motoperpétuo movimento
Parece ensimesmar esse momento
Em névoas de voraz melancolia,
Que até sua beleza decadente,
Capaz de enternecer-me de repente,
Não é senão vontade de poesia.
Esmeraldas - 05 03 2025