ALIENAÇÃO MÚTUA

No trono da Razão, o Alienista

Balança a Norma o pensamento alheio,

Declara: “És tu quem a Loucura alenta!”

Mas não vê as correntes do seu enleio.

Já o Alienado, em sombras condenado,

No vidro partido vê um rosto estranho:

“Não é meu irmão, mas Ser desgarrado

De um abismo estrelar, de um prisma tamanho!”

Assim a Razão, em espelhos perdida,

Um diz que o outro é dono de si mesmo.

Um grita “Doença!”, outro “Invasão à vida!”.

Na verdade quebrada, plantam o mesmo.

Cegos nas grades que seus olhos criam,

A loucura é crer que só “o outro” injuriam.