TRILHA ABSC 15- SONETOS COM TEMA: OBRA INACABADA
*SONETOS INACABADOS*
Desde jovem, me arrisco no soneto
mas, às vezes, me falta inspiração.
Então, deixo inconcluso algum quarteto,
aguardando melhor definição.
Outra hora, eu encontro a solução
para o fecho e o rabisco num terceto.
E sigo esparramando anotação
de todos estes versos que cometo...
Quando encontro um soneto assim, perdido,
trato logo de vê-lo concluído
pois trago em mim um medo inconfessado
que, agora, me encorajo em confessar:
que a morte se decida a me encontrar
no meio de um soneto inacabado.
ARLINDO TADEU HAGEN
*MEMÓRIAS REPARTIDAS*
Olhando no rascunho em que eu escrevo
Sonetos, sobre minhas fartas penas,
Encontro alguns com uma estrofe apenas...
E sinto que acabá-lo, logo, devo.
São poucos que me dão veraz enlevo
Para fazer-me recordar as cenas
E possa concluir, com rimas plenas,
O meu rebento... então, enfim me atrevo.
Perdido nas memórias de um dilema
Escolho aquele eleito e no poema,
Que explanará meu fado desditado,
Reforço o meu real constragimento,
Pois sei que já perdi o sentimento
Para compor meu verso inacabado.
José Rodrigues Filho.
*O CRIME*
Deixar um bom soneto inacabado,
Por falta de um vocábulo que rime,
Sem dúvida, devia ser um crime,
Pior do que roubar ou ter matado!
Ah! Quanto prejuízo tem causado
Aquele, cuja ideia mais sublime,
Aos outros não confessa, nem exprime,
Por vê-la em verso frouxo e malogrado?
Alguém que larga um texto, assim, ao léu,
Precisa ser julgado como réu,
De forma rigorosa, com certeza.
E, enfim, encarcerado, de antemão,
Merece a mais severa punição,
Por ter negado ao mundo tal beleza!
RAFAEL FERREIRA
*INSPIRAÇÃO*
Dois... quatro... seis versinhos, de repente,
Como se fosse a chance derradeira,
Chegam da inspiração, divinamente,
Após liberta a evocação primeira.
Nem sempre tão passiva e obediente...
A intuição, eterna conselheira,
Com sua voz, mansinha e assaz prudente,
Ensina-me a cautela verdadeira.
E às margens de um riacho, mais reflito...
Não há motivos para algum conflito
Debaixo deste céu iluminado!
Catorze versos findos - o esqueleto -,
Prossigo o acabamento do soneto
Sem, nunca, abandoná-lo inacabado.
Ricardo Camacho
*MEU SONETO INACABADO*
Aquele meu soneto inacabado?
Tentei… recomecei mais de uma vez,
mas, ao revisitar o meu passado,
notei que muita coisa se desfez.
Parece tudo tão inusitado…
Por falha minha — mera estupidez —
eu tento e não dou conta do recado
(tal qual um árduo jogo de xadrez!)
Aqui, eu reconheço o meu fracasso…
diante do suspense, um erro crasso
consiste em inventar qualquer final.
O eu-lírico que habita em mim, rejeita,
nenhuma ideia agrada e, insatisfeita,
farei do meu soneto o funeral!
Elvira Drummond
*INACABADO*
Quis contar nosso amor em poesia
E escolhi um soneto por moldura!
Desde o começo, em tão longínquo dia,
Aos momentos atuais desta aventura.
Éramos jovens, plenos de alegria,
De um mundo novo em ávida procura!
Feliz, ingenuamente, eu não sabia
Que tudo acabaria em desventura!
Ao amor dediquei-me totalmente!
Meus outros sonhos esqueci de lado
Para seguir contigo unicamente.
Verso a verso, um poema burilado,
Até que me deixaste de repente,
ficando o meu soneto inacabado!
Fernando Antônio Belino
*MAGIA INTERROMPIDA*
O imenso amor, outrora concebido,
eu traduzia em versos, no papel…
Narrando cada passo colorido,
punha a magia dada a um carrossel.
Tempos depois, ao vê-lo constrangido,
sem ter retorno ao seu ardor fiel,
fui recolhendo o amor desiludido
que, desbotado, impôs o adeus cruel.
E, agora, sufocando o sentimento,
sou folha seca, só e solta ao vento,
sem o vigor do intrépido passado.
Ao ver desfavorável o desfecho,
na minha inspiração não mais remexo
e cremo o meu soneto inacabado.
Lucília A. T. Decarli
*SONETOS INACABADOS*
Malgrado a minha parca criação,
Eu tenho muitos textos começados,
E alguns estão bastante adiantados,
Cumprindo a fase de maturação.
Às vezes, não me vem inspiração,
Mas olho os meus sonetos retalhados
Altero um trecho, deixo alguns marcados
E vou seguindo a vida, sem pressão.
Contudo, nem um pouco me angustia
A ideia de que, enfim, irei deixá-los
Quando vier beijar-me a morte, um dia...
Pois tenho a sensação que, na verdade,
Eu poderei, por certo, terminá-los
Durante a imensidão da eternidade.
Gilliard Santos
*JURAS SUFOCADAS*
A noite, quando exala nostalgia,
entrega-me ao calvário desumano
de atravessar, em sonho, a galeria
e amenizar a sede do cigano.
A inspiração, parceira na agonia,
marcada pelo sal do desengano,
às vezes me socorre e me alivia,
acolhe o desespero, o grito insano.
Rabisco juras, canto o sentimento,
imerso na saudade e, assim, enfrento
as dores da pungente solidão.
No entanto, aos poucos, domo o desatino,
restauro a lucidez e não termino
mais um soneto escravo da ilusão...
Jerson Brito