Soneto XXV - Um poeta

Sob o véu da noite muda esvaziado

De estrelas, vela, estúpido, ante a mesa,

Um poeta; alheio ao mundo, vergado

Sobre o papel, lança-se à nobre empresa:

Escreve. Mas logo vê que a beleza

Lhe tem escapado ao verso, rimado

Nos cognatos, medido em falha e tesa

Métrica, e em vã pressa do apaixonado.

Furtando-se aos amigos, ao prazer

Mundano, àquilo que não lhe condiz…

Trespassa a vida assim – como um asceta.

“Não escrever (nos professa) é morrer;

Escrever é ser Dante sem Beatriz!”

E não sei qual mata mais a um poeta.