LAVADEIRA
Sou lavadeira, as minhas mágoas lavo
nas águas de meus prantos corredios
que, em minha face, fluem mais que os rios,
por conta de um penar, de algum agravo.
A minha própria dor exploro e escavo,
procuro em seus recôncavos sombrios,
nas camadas profundas dos baixios
a fonte de seu fel, amargo e pravo,
que brota nos meus olhos, nos seus cantos,
bem mais do que julguei, que tu supunhas,
e verte em minha tez, silente e fria.
Eu lavo minhas mágoas com meus prantos...
Enfrento a dor e cravo nela as unhas
até que se transmute em poesia.
Edir Pina de Barros