Redenção

I

Ah, Mãe de nossos ventres decompostos!

Tu, carta aberta ao amor que da linhagem

escorre do arvoredo frio dos povos,

mas povos que te estupram toda aragem!

És fruto do divino; a impressão, o Logos,

a mente da catártica lua, a imagem

perfeita que cultivo dentre fogos...

A chama que te aborta a ígnea passagem.

Escrevo-te a piedade sob a graça,

e clamo-te no signo da tragédia

um pouco da tua dor que te transpassa...

Poesia do açoite, entrego-te a rédea

do jugo humano, a nossa defasagem:

— Perdoai, eles não sabem o que fazem!

II

Oferte-me a paciência dos rochedos

e lave com as rosas o meu túmulo;

as pedras gozam mortes e degredos

confiando nas magnólias que acúmulo

a dor, o ressentir e tantos medos...

Ah! Oferte-me saber o perdão nulo

que tanto só meditei nos segredos:

meu lado feminino do casulo...

Aqui, preso na cela homofóbica

a ogiva fita o ódio nuclear,

aponta-te a explosão da espasmódica

magnólia! Dentre tantas outras, vi

fugir do vento então só para ti

que crês a ti o amor; só a ti amar...

III

Olvidado na presa da delícia,

coração de ardilosa culpa falsa!

É memória blasfema e carnívora.

Chicoteado por minha cônscia alça...

A carne verde-musgo que a malícia

perpetua podridão tão vil, e encalça

minha sede por mais! Desejo, Alícia...

minha amada paixão que me embalsama.

Todavia... me traiu Alícia com mui gosto!

Não só o corpo ela ofertou àquele crápula,

deu os passos à estrada do desgosto!

Retrocesso de carne que me entalha

o castigo da minha pele e o insólito

pelejar... Meu desejo de amor-próprio.

Reirazinho
Enviado por Reirazinho em 24/11/2024
Código do texto: T8204347
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