Lua cheia
Corre na tarde em sol um sopro doce e quente.
Agita os roseirais, resvala as tenras flores;
abrasa-se o jardim aos toques sedutores,
e um halo multicor refulge no ambiente.
Azul, lilás, carmim... as mais diversas cores,
em mágica explosão, adornam o poente;
ferve-me o coração que um verso já pressente,
enquanto ascendo ao céu os olhos sonhadores.
Na espera do luar a tarde se enternece,
acalentando a voz de alguma muda prece,
e no ermo que reluz, aninho-me, sem medos.
No instante lapidar o meu prazer se alteia.
Se morre o ardor do sol, renasce a lua cheia,
e insiste um verso audaz a formigar-me os dedos.