Memória
Não abandono, mesmo que o tempo passe,
a incerteza que, sem motivos, me lançou,
como um espinho manteve-se, o impasse,
na memória amarga que meu ser guardou.
Quem descreu de mim, em critério frio,
fez da lealdade um estorvo à carregar,
e, apesar de que hoje celebre o desvario,
a ressonância do pressentimento vai ecoar.
Visto que não se abstrai da índole essa ferida,
ainda que a ventania rasteira a faça se ocultar,
a recordação de modo algum será vencida.
Se tornará, sem cessar, um motivo à pesar,
não sou relutância, mas não deixo esquecer:
quem um dia hesitou, nem o amor irá merecer.